O delegado da Polícia Federal Marcio Anselmo, que atua na Operação Lava Jato, defendeu nesta terça-feira (14) a punição às empresas que participaram do esquema de corrupção na Petrobras.
Perguntado sobre a crise financeira que atinge os grupos econômicos investigados, ele afirmou que não se pode “pensar só na situação das empresas”. “Uma hora você precisa passara essa situação a limpo. Quem praticou os atos deve ser responsabilizado. Não dá para pensar só na situação das empresas, que lucraram com isso”, argumentou.
O delegado também criticou a dificuldade de se condenar acusados de corrupção na última instância da Justiça. “Se pegar o mapa do sistema penitenciário, a quantidade de presos que cumprem pena por corrupção é mínima, não chega a 0,5%.”
Segundo ele, isso dificulta a repatriação dos valores desviados em esquemas de desfalques. Sobre os envolvidos na Lava Jato, porém, disse que as perspectivas de condenação dos culpados são boas.
“Acredito que, desde o mensalão, a postura [para a punição] tenha se sedimentado mais. O STJ [Superior Tribunal de Justiça] já tem mais de cem habeas corpus negados”, citou.
As declarações de Anselmo foram dadas, em Brasília, durante entrevista coletiva na sede da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF). A entidade apresentou propostas de combate à corrupção e à impunidade, como o aumento da autonomia orçamentária e operacional da PF e a criação de delegacias especializadas na repressão de desvios de recursos públicos.
Segundo a ADPF, só os US$ 97 milhões que o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco se comprometeu a devolver ao erário já seriam suficientes para tirar esse plano do papel.
“O desejo de combater a corrupção atrai muita gente a ingressar na Polícia, inclusive eu. Hoje, temos uma estrutura que precisa ser melhorada, principalmente com a criação dessas delegacias. Temos problemas de pagamentos de diárias de servidores”, afirmou Ancelmo.
Os delegados afirmam missões internacionais, viagens que durem mais de dez dias e as que envolvam mais de dez policiais precisam de autorização do Ministério da Justiça.
Presidente da ADPF, Marcos Leôncio defendeu que a PF seja desvinculada do Ministério da Justiça, tenha orçamento próprio e passe a ser fiscalizada por um Conselho de Polícias Judiciárias, a ser criado. “O modelo atual mistura atividades de investigação com gestão do órgão. Por que deve caber ao ministro da Justiça, e não ao diretor-geral da PF, prestar contas publicamente sobre as investigações da polícia?”, questionou.
Leôncio esclareceu que, ao documentar o pedido de deslocamento, a PF não precisa detalhar o motivo da viagem nem a operação da qual ela faz parte. “Ainda assim, com as regras atuais, é possível identificar o destino dos policiais, então é possível saber os locais em que estão acontecendo as investigações.”
Na defesa pela proposta de desvincular a PF do ministério, Leôncio citou a polêmica criada depois que foram divulgados encontros do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) com advogados de empresas investigadas na Lava Jato.
“Receber advogados é a coisa mais natural do mundo, mas, quando ele traz para si a possibilidade de falar pela PF, ele traz indagações, questionamentos de cunho partidário”, afirmou o presidente da ADPF.
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