Um dos principais delegados da Polícia Federal que atuam na Operação Lava Jato, Márcio Adriano Anselmo, disse nesta quinta-feira (3) que “um retrato de um novo país se desenha” com a investigação, mas “muito trabalho ainda resta pela frente”.
Anselmo foi escolhido para fazer o discurso de agradecimento em nome da equipe da Lava Jato, incluindo os delegados Erika Marena, Igor Romário de Paula e o superintendente da PF do Paraná, Rosalvo Ferreira Franco, que receberam medalhas Tiradentes da ADPF (Associação dos Delegados da Polícia Federal), em Brasília. A entidade costuma conceder a honraria para pessoas que ajudaram a instituição mas não a integram -neste ano, abriu uma exceção para homenagear os delegados da Lava Jato. A cerimônia foi acompanhada pelo diretor geral da PF, Leandro Daiello, que preferiu não discursar.
Márcio Anselmo fez um resumo de um ano e dez meses de operação. Ele opinou que “nada teria acontecido” sem “o apoio incondicional” do superintendente no Paraná, que segundo ele reestruturou a Delefin (delegacia especializada em crimes financeiros) do Estado e reuniu ele e a delegada Erika, que anteriormente haviam atuado em outros crimes do gênero, como o caso Banestado. Segundo Anselmo, a Delefin havia passado “um tempo tenebroso”, mas retomou força com o início da Lava Jato. Ele contou que a deflagração da primeira fase da operação, em março de 2014, foi cumprida por uma equipe que não havia dormido após “72 horas de trabalho”.
“Embora tímida, não demorou para que ela [Lava Jato] que tomasse seus primeiros rumos e a certeza, para quem estava acompanhando, de que seria um grande trabalho. ‘Acabar com a corrupção é o objetivo supremo daquele que não chegou ao poder’. A frase do [jornalista e escritor] Millôr Fernandes, escrita na agenda de um agente público, é emblemática”, disse o delegado.
Anselmo agradeceu “aos tribunais superiores, ao juiz federal Sergio Moro e ao ministro do STF Teori Zavascki “pela atuação firme nessas medidas judiciais”.
O delegado explicou alguns dos nomes das 21 fases da Lava Jato. Segundo ele, “A Origem”, desencadeada em abril de 2015 para prender os ex-deputados federais André Vargas (ex-PT-PR), Pedro Corrêa (PP-PE) e Luiz Argolo (SDD-BA), representa “a conclusão de um círculo vicioso onde se alcança pela primeira vez os agentes políticos, o princípio e o fim de toda a estrutura”.
“[A fase] ‘My Way’ indica o caminho da propina, dos milhões e milhões sangrados do cofre da maior empresa brasileira. Até que o país se surpreende com a indagação de um novo preso: ‘Que país é este?’ Sim, que país seria esse em que corruptos de alto escalão são presos e permanecem atrás das grades?”, discursou o delegado.
Segundo Anselmo, a fase denominada “Juízo Final”, desencadeada em novembro de 2014 para prender executivos de algumas das principais construtoras do país, “ganhou o mundo ao atingir patamares nunca alcançados no combate à corrupção no país”.
“Tal qual a Operação Mãos Limpas, que mudou a história da Itália, um quarto de século antes, pessoas que nunca se imaginaram naquela situação conheceram o cárcere”, disse Anselmo.
A entrega das medalhas ocorreu depois da posse da nova diretoria da ADPF, que tem como filiados 2,8 mil delegados da PF de todo o país, ou cerca de 90% da categoria. O novo presidente, Carlos Eduardo Sobral, disse que uma das tarefas da ADPF é trabalhar “para que investigações prioritárias não parem” no país. “A associação quer que a PF tenha ainda mais autonomia para continuar combatendo o crime organizado”, afirmou o delegado.
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