No primeiro depoimento público que deram sobre a escuta encontrada na cela de Alberto Youssef, os delegados da Operação Lava Jato negaram que tenham pedido sua instalação e disseram que não tinham conhecimento do aparelho.
A escuta, instalada sem autorização judicial, teria sido usada para monitorar conversas do doleiro e de outros presos na operação. Policiais federais acusam os delegados da Lava Jato de terem ordenado a instalação do equipamento, que foi encontrado por Youssef em abril do ano passado.
A corregedoria da PF investiga o caso. Advogados de defesa têm dito que o episódio foi uma violação às garantias dos investigados. “Isso me parece totalmente descabido”, disse o delegado Marcio Adriano Anselmo, em depoimento à Justiça Federal nesta quarta-feira (16). Ele e o colega Igor Romário de Paula, ambos à frente das investigações da Lava Jato, foram ouvidos como testemunhas numa ação penal.
Os dois disseram que ninguém deu ordens para a instalação da escuta, que jamais receberam qualquer tipo de gravação do aparelho e que só ficaram sabendo da sua existência quando ela foi noticiada pela defesa de Youssef. “Essa ordem [para a instalação da escuta] não existiu por nenhuma das autoridades envolvidas na investigação da Lava Jato, nem da superintendência. Até o momento em que ela foi encontrada, nós desconhecíamos que existisse esse equipamento”, disse Paula.
O delegado disse que Youssef nem sequer ficou, nos primeiros dias de custódia, na cela onde estava a escuta. Por isso, não haveria possibilidade de que eles houvessem instalado o equipamento propositalmente para monitorá-lo.
VERSÕES
É o oposto do que afirmou o agente Dalmey Fernando Werlang, que também depôs à Justiça nesta quarta. Werlang, que já falou à CPI da Petrobras e prestou informações à sindicância da PF, diz ter instalado a escuta a pedido de Paula, Anselmo e do superintendente Rosalvo Ferreira Franco. “Eles estiveram na minha sala, numa manhã, solicitando a instalação com urgência em uma das celas. Isso foi às vésperas, horas antes da operação.”
O agente disse que entregava, de dois em dois dias, um pendrive para os delegados com os arquivos de áudio, mas que nunca degravou nem ouviu o conteúdo. Isso ocorreu durante aproximadamente dez dias.
Uma sindicância interna da PF no Paraná apontou, em setembro do ano passado, que o equipamento estava desativado. Um memorando do próprio Werlang levantava a possibilidade de que ele já estivesse instalado no local anteriormente, na época em que o traficante Fernandinho Beira-Mar ficou preso no Paraná e um juiz de Mato Grosso autorizou a instalação de uma escuta ambiental.
Na audiência desta quarta, o agente disse ter sido pressionado a escrever essa informação, que não seria verdadeira. “A gente estava numa situação difícil. Eles colocaram a gente na parede. O delegado [Maurício] Moscardi [responsável pela sindicância] chegou e disse que tinha que escrever que já existia [a escuta]. Eu questionei, mas ele insistia que tinha que ser daquela maneira”, disse Werlang ao juiz Sergio Moro. “Eu não tinha segurança na época para confrontá-lo.”
A nova sindicância da PF sobre o caso ainda não foi concluída.