O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares disse, em depoimento ao Ministério Público Estadual, que fez lobby para o governo de Goiás a pedido do governador tucano, Marconi Perillo, para obter verbas junto ao governo federal. O governo de Goiás nega. Delúbio foi ouvido segunda-feira pelo promotor Túlio Tadeu Tavares, da Promotoria da Cidadania de São Paulo, em cumprimento a uma solicitação do Ministério Público goiano. O ex-tesoureiro é investigado em inquérito civil público por receber salário de R$ 1.300 como professor estadual de Goiás enquanto morava em São Paulo.

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Perguntado sobre quais as outras funções que exercia enquanto comandava as finanças do PT, Delúbio respondeu que prestava assessoria ao governo de Goiás, a pedido de Perillo, conseguindo verbas federais para obras no estado. "Essa assessoria consistia em auxiliar o governo daquele estado na obtenção de verbas para a recuperação de estradas, verbas para a construção de estação de tratamento de esgoto, verbas para a construção da barragem João Leite, verbas para a construção do aeroporto Santa Genoveva, entre outras obras das quais não se recorda", disse Delúbio em seu depoimento.

Segundo Delúbio, Perillo orientava informalmente os pedidos. O ex-tesoureiro disse que a assessoria ao tucano era feita gratuitamente. "Essa assessoria era prestada na medida da solicitação do governador, informalmente. As assessorias referidas eram prestadas a título gratuito", disse o ex-tesoureiro ao Ministério Público.

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O governo goiano nega que Delúbio tenha prestado assessoria, mesmo que informal.

- Ele nunca foi assessor do governador, nem informalmente. Isso reflete o desespero de uma pessoa que está na situação dele - disse o assessor de imprensa de Perillo, Jairo Rodrigues.

Segundo Rodrigues, Delúbio inventou uma história para justificar o tempo em que recebeu sem trabalhar da Secretaria de Educação de Goiás:

- Posso supor que seja uma justificativa para o salário que recebia.

O inquérito civil foi aberto a pedido da Secretaria de Educação do estado. Delúbio é professor de matemática concursado da rede estadual, mas foi transferido de função para prestar assessoria ao Sindicato dos Professores do Estado de Goiás. Ele continuou recebendo salários até junho deste ano, quando o governo goiano bloqueou os pagamentos. No depoimento, o tesoureiro petista diz que continuou prestando assessoria ao sindicato mesmo quando morava em São Paulo.

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Antes da atual crise estourar, Delúbio tentou uma aproximação entre tucanos e petistas de Goiás. O objetivo era viabilizar a sonhada candidatura ao Senado pelo seu estado natal. Em entrevista ao jornal 'O Globo' no ano passado, Delúbio admitiu que, a pedido de Perillo, atuou junto à bancada petista na Assembléia Legislativa de Goiás para barrar uma CPI que incomodava o governador. Além disso, Delúbio participou da renegociação da dívida da Companhia Elétrica de Goiás (Celg) com o sistema Eletrobrás/Furnas/Itaipu. Pelo acordo, fechado em janeiro, a companhia goiana terá 18 anos para pagar R$ 1,081 bilhão:

- Aqui, sempre que posso ajudar o governo do estado, ajudo, mesmo sendo nosso adversário. Por exemplo, viemos aqui inaugurar o pólo minero-químico de Catalão e fomos juntos. Eu, Marconi e o presidente Lula para inaugurar a fábrica. Conheço aquilo desde que era estatal e o pessoal vem me procurar, pedem para falar com o Gilberto (Carvalho, chefe de gabinete de Lula) e o pessoal vai lá falar com o Gilberto. Com quem fala? Digo: fale com fulano.

Desde o início da semana dirigentes petistas têm procurado Delúbio para tentar convencê-lo a sair espontaneamente do partido, evitando que o relatório da comissão de ética petista que recomenda sua expulsão seja votado na reunião desta sexta-feira do diretório nacional do PT.

Para alguns dirigentes, o fato de ter vazado para a imprensa trechos de suas alegações finais apresentadas à comissão de ética, indica que Delúbio deverá mesmo pedir a desfiliação. A edição de quinta-feira da "Folha de S.Paulo" publica trechos da defesa de Delúbio apresentada à comissão em que diz que a prática de caixa dois no PT é "antiga e habitual" e afirma que não dará nomes de petistas que cometeram a irregularidade.

Mas Tarso Genro, presidente do PT até sábado, quer levar à votação o pedido de expulsão do ex-tesoureiro. Tarso quer dar cabo ao processo iniciado em sua gestão.

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