Brasília (AE) – Houve mais divergências do que coincidências nas versões apresentadas ontem pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares durante acareação na CPI do Mensalão. Os dois concordaram que o dinheiro do caixa 2 movimentado pelo PT e partidos aliados foi de R$ 55,9 milhões. Mas não conseguiram se entender quanto ao valor repassado ao PL. Delúbio disse que autorizou R$ 12 milhões. Marcos Valério afirmou que fez o repasse de R$ 10.837.500, em 19 vezes. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, garantiu que só recebeu R$ 6,5 milhões.

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Valdemar reafirmou que o dinheiro recebido por ele foi integralmente utilizado para pagar dívidas do segundo turno da chapa composta pelos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva, do PT e José Alencar, do PL. "O presidente Lula iria perder o segundo turno da eleição em São Paulo para o José Serra", disse Valdemar numa repetição do que já afirmara no depoimento anterior à CPI do Mensalão. "Tudo foi gasto na campanha dele." Mas Valdemar não conseguiu os comprovantes dos gastos, como prometera à CPI. "Ainda não tenho os recibos", disse ele.

A superacareação feita ontem pela CPI do Mensalão não trouxe novidades. Mas animou os partidos de oposição. Ao ver tanta gente falando de caixa 2, os deputados Moroni Torgan (PFL-CE) e Zulaiê Cobra (PSDB-SP) anunciaram que tentariam convencer a direção de seus partidos a pedir o impeachment do presidente Lula.

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Ao contrário do que costuma ocorrer nas acareações, mesmo com as divergências nos depoimentos, ninguém se atacou. Além dos três pagadores – Delúbio, Marcos Valério e Simone Vasconcelos, gerente-financeira da SMP&B –, até o início da noite tinham participado os recebedores Valdemar Costa Neto e Jacinto Lamas, do PL. Os deputados pretendiam ainda submeter à acareação João Cláudio Genu, do PP, Manoel Severino, do PT e ex-presidente da Casa da Moeda, e Emerson Palmieri, do PTB.

O objetivo da acareação era o de investigar a diferença das somas de dinheiro. No caso do repasse a Valdemar Costa Neto, por exemplo, há o sumiço de R$ 4 milhões. "Não é pouca coisa. É preciso saber o que aconteceu", disse o relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG). Para ele, a acareação não revelou nada de novo, mas foi importante para o seu relatório. "Poderei dizer quem cometeu crime de perjúrio e quem desviou provas", afirmou Abi-Ackel.

Marcos Valério fez vários desabafos. Ao cumprimentar a todos, agradeceu a oportunidade de voltar a depor numa CPI (ele já participou de um depoimento na CPI dos Correios e de dois na do Mensalão). Disse que sua palavra tem o mesmo valor da de outros e afirmou que não foi o primeiro nem será o último a participar de uma campanha política.

Delúbio Soares, que foi expulso do PT no sábado, atribuiu a decisão partidária ao fato de ter aparecido em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, há 15 dias, sorridente, com uma mangueira de água na mão e por ter dito a frase "isso vai virar piada de salão".