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“Não fui senão em todos os instantes, sem exceção, fiel cumpridor das tarefas que me destinou o PT.”Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT | Jamil Bittar/Reuters
“Não fui senão em todos os instantes, sem exceção, fiel cumpridor das tarefas que me destinou o PT.”Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT| Foto: Jamil Bittar/Reuters

Pressionado por emissários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares de Castro – expulso na esteira do escândalo do mensalão, em 2005 – retirou ontem o pedido de reintegração ao partido. Logo no início da reunião do Diretório Nacional do PT, Delúbio fez um discurso emocionado no qual destacou nada ter feito sem o consentimento da sigla. Com a voz embargada e lágrimas nos olhos, o antigo guardião do dinheiro petista disse que "começaria tudo outra vez" e insinuou que o caixa 2 é uma prática corriqueira entre os partidos.

"Do que me acusam?", perguntou Delúbio. "Quantos são os políticos brasileiros que realizaram campanhas eleitorais sem que alguma soma, por menor que fosse, não tenha sido contabilizada?" Diante de uma plateia composta por antigos companheiros, o ex-secretário de Finanças do PT deu a entender que existe muita hipocrisia nessa discussão porque até hoje não se aprovou o financiamento público de campanha.

"Não fui senão em todos os instantes, sem exceção, fiel cumpridor das tarefas que me destinou o PT", insistiu Delúbio, que leu um discurso a portas fechadas, por 20 minutos, e arrancou aplausos de seus apoiadores. Não foi só: antes de deixar a reunião, num carro blindado, o ex-tesoureiro tomou café com dirigentes do PT. Recebeu abraços e tapas nas costas.

Delúbio resolveu se antecipar à decisão da cúpula petista e desistir do pedido de anistia ao perceber que seria derrotado. Sua reivindicação rachou o PT e ele não tinha apoio fechado nem mesmo em sua corrente, o antigo Campo Majoritário, rebatizado de Construindo um Novo Brasil.

Em março, o ex-tesoureiro havia encaminhado carta solicitando a reintegração ao PT porque pretende concorrer a deputado federal por Goiás, em 2010. Quinta-feira, após ser absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da acusação de gestão fraudulenta no processo que investiga suposto empréstimo de R$ 2,4 milhões do banco BMG ao PT, Delúbio avaliou que sua situação no partido poderia melhorar. Mas nada mudou.

Negociação

Duas horas antes da reunião do Diretório, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o líder do partido na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), conversaram com ele e terminaram uma negociação iniciada há cerca de 20 dias, a pedido de Lula, para o recuo estratégico.

Berzoini e Vaccarezza repetiram a Delúbio que tanto Lula quanto parte da cúpula petista consideravam "inoportuno" o pedido de retorno. Mais: afirmaram que seu projeto de se reintegrar ao PT às vésperas de um ano eleitoral reabria as feridas do mensalão justamente no momento em que a candidatura presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, precisava se consolidar.

O processo de "convencimento" de Delúbio também passou pelo Planalto. Entraram em campo o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e o assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia – que também é vice-presidente do PT.

"Foi a noite de São Bartolomeu", resumiu o deputado federal André Vargas (PT-PR), referindo-se ao massacre de fiéis protestantes na França do século 16. Se o ex-tesoureiro não recuasse, dirigentes do PT já tinham estratégia sob medida para não mexer no vespeiro: estavam preparados para retirar o pedido da pauta do Diretório Nacional.

Apesar de garantir que não guarda ressentimentos por ser "defenestrado" do partido que ajudou a fundar, o ex-secretário de Finanças não conseguiu esconder a mágoa. Antes de se despedir, lembrou que o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou, "de forma cabal e definitiva", as contas administradas por ele quando representava a CUT no Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat). Nos bastidores do PT, o comentário é que Delúbio deve se filiar ao PMDB por ser amigo do prefeito de Goiânia, Íris Rezende.

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