Conselho de Ética analisará o caso só depois da Páscoa
Folhapress
O Senado vai decidir somente depois da Páscoa se instaura processo por quebra de decoro parlamentar contra o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). O presidente interino do Conselho de Ética da Casa, senador Jayme Campos (DEM-MT), se declarou impedido para julgar o colega de partido. Ele convocou reunião do colegiado para o dia 10 de abril com o objetivo de eleger um novo presidente. O cargo está vago desde o ano passado, quando o senador João Alberto (PMDB-MA) se licenciou do Senado.
Pelo regimento da Casa, cabe ao presidente do Conselho de Ética decidir se acata representação por quebra de decoro contra um parlamentar. O PSol encaminhou anteontem ao conselho representação contra Demóstenes para que o órgão investigue sua ligação com o empresário do ramo de jogos, Carlos Cachoeira.
Campos poderia decidir sobre o processo como vice-presidente, já que o cargo está vago, mas pediu ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para ficar fora do caso. "Para mim fica difícil assumir a presidência do Conselho porque o Demóstenes é do mesmo partido que o meu. Fica muito ruim para mim", disse.
O presidente do Conselho de Ética pode mandar instaurar o processo, levando-o para o plenário do colegiado, ou recomendar o seu arquivamento.
O destino político do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), suspeito de envolvimento com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, começará a ser definido na próxima semana. A Executiva Nacional do Democratas (DEM), partido de Demóstenes, marcou para a terça-feira uma reunião para decidir se será aberto um processo de investigação interna que pode levar à expulsão dele da legenda.
A assessoria de Demóstenes informou que o senador já recebeu da Procuradoria-Geral da República (PGR) os autos contendo dados das investigações que o envolvem. Se o DEM decidir abrir um processo contra o senador, será designado um relator para o caso e definido prazo de menos de um mês para a defesa. Na terça-feira, o presidente do partido, José Agripino Maia (RN), disse que o partido pode se "sacrificar", em referência a Demóstenes.
Sigilo
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou ontem a quebra do sigilo bancário de Demóstenes e de outros investigados por suspeita de envolvimento com o Carlinhos Cachoeira. Lewandowski abriu um inquérito no STF e autorizou uma série de diligências que tinham sido requeridas na terça-feira pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Gravações feitas pela PF mostram que Demóstenes manteria ligações com Carlinhos Cachoeira. Além de presentes do empresário, há suspeitas de que o senador teria recebido cerca de R$ 3 milhões de Cachoeira. Gravações revelam que Cachoeira, o contador Giovani Pereira Silva e o sócio Cláudio Abreu conversaram em sobre várias cifras e, em meio à contabilidade, fizeram referências a supostos repasses ao senador. Trechos dos diálogos foram divulgados pelo Jornal Nacional, da Rede Globo.
As conversas foram interceptadas em 2010, no começo da Operação Monte Carlo. Cachoeira, Abreu e Silva estão fazendo contas de movimentação financeira da organização. Num determinado momento, Abreu pergunta a Cachoeira quanto ele reteve. "Um milhão do Demóstenes", responde Cachoeira. Na sequência da conversa, Cachoeira menciona outras cifras e relaciona os números ao senador. Seriam R$ 1,5 milhão, mais R$ 600 mil e mais R$ 1 milhão .
A soma daria, nos cálculos de Cachoeira, R$ 3,1 milhões. Abreu corrige o sócio e diz que parte do dinheiro já vinha sendo retida desde a eleição do Demóstenes por recomendação do próprio Cachoeira. A conversa dura cinco minutos, e os três mencionam o nome "Demóstenes" seis vezes. Nos trechos divulgados pela TV não estão claras as circunstâncias e nem os objetivos da suposta movimentação financeira.