Que a política brasileira é cheia de reviravoltas não é novidade para ninguém. A mais surpreendente, porém, parece estar no fato do DEM ter – mesmo que indiretamente – chegado à Presidência da República nesta quinta-feira (1.º).
Com a viagem do agora presidente Michel Temer (PMDB) à China, quem assume a cadeira no Palácio do Planalto até terça-feira (6) é Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara dos Deputados. Isso porque, segundo a nossa Constituição, o presidente da Câmara é o terceiro na linha sucessória e, como Temer não tem um vice-presidente, Maia assume o posto por enquanto.
Questionado como serão suas atitudes durante o período no comando interino do Palácio do Planalto, Maia disse que vai “presidir com muita discrição”. Rodrigo Maia está em seu quinto mandato consecutivo na Câmara. Ele foi eleito pela primeira vez em 1998 pelo antigo PFL. Quando o partido passou por uma reestruturação em 2007 e tornou-se o DEM, Maia assumiu a presidência da legenda.
Escândalos
Foi durante a presidência de Maia que o DEM passou pelo primeiro grande escândalo: o caso Arruda, em 2009. O então governador do Distrito Federal (DF) José Roberto Arruda foi acusado pela Polícia Federal de ser articulador de um esquema de corrupção envolvendo integrantes de seu governo, empresas com contratos públicos e deputados, descoberto na Operação Caixa de Pandora. Arruda era o único governador eleito pelo DEM no país e acabou deixando o partido um dia antes de ser expulso da legenda. Na época, Maia era presidente da legenda e disse que o caso era o “mais grave da história do partido”.
Em 2010, em um evento de campanha da então candidata do PT Dilma Rousseff à Presidência, o ex-presidente Lula disse o DEM deveria ser “extirpado da política brasileira” por “alimentar o ódio”. Maia, na condição de presidente do DEM, rebateu dizendo que as declarações de Lula denotavam “desequilíbrio” do presidente. Afirmou ainda que Lula “se aproveita de sua popularidade para agredir, tentar pisar em seus adversários”.
Em 2012, um novo escândalo para o DEM. O então líder do partido no Senado Demóstenes Torres foi flagrado em um grampo da PF negociando com Carlinhos Cachoeira, preso acusado de liderar uma suposta quadrilha especializada em explorar máquinas caça-níqueis, desmantelada na Operação Monte Carlo. Por 56 votos, Demóstenes Torres teve o mandato cassado pelos colegas em 2012 e só poderá se candidatar novamente em 2027.
Despachando no Planalto
Maia chegou pouco antes das 10h ao Palácio do Planalto para uma agenda que inclui encontro com o ex-advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, às 15h30.
Pela manhã, o presidente interino recebeu os deputados federais Valdir Maranhão (PP-MA), Antonio Imbassahy (PSDB-BA) e Rubens Bueno (PPS-PR), além de parlamentares do DEM.
Às 17h30, Maia participará da posse da ministra Laurita Vaz e do ministro Humberto Martins, nos cargos de presidente e vice-presidente, respectivamente, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Presidência da Câmara
Maia assumiu a presidência da Câmara depois que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) renunciou ao cargo. Ele foi afastado da presidência por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e quem assumiu interinamente foi o deputado Waldir Maranhão (PP-MA), que acabou envolvido em uma série de polêmicas na Casa. Uma delas foi a decisão de anular a sessão do impeachment realizada pelos deputados. Maranhão voltou atrás da decisão em menos de 24 horas.
Maia já foi aliado de Cunha, mas rompeu com o peemedebista quando o ex-presidente da Casa decidiu apoiar André Moura (PSC-SE) para a liderança do governo Temer na Casa, posto almejado por Maia. Apesar do atrito, ao assumir a presidência da Câmara, Maia disse que Cunha foi “talvez o melhor presidente” da Casa.
Maia votou a favor do impeachment, mas mesmo assim teve o apoio de petistas para a eleição na Câmara. Ele foi eleito com apoio do PSDB, PPS, PSDB e setores do PT, além do próprio DEM. Ele deve permanecer no cargo até fevereiro do ano que vem, quando haverá nova eleição.