Irmão da vice-governadora Cida Borghetti (Pros), o ex-vereador de Curitiba Juliano Borghetti foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público Estadual (MP), no fim do ano passado, pelos crimes de exploração de prestígio e organização criminosa. Segundo as investigações da Operação Quadro Negro, ele dizia que poderia usar do seu prestígio político em benefício da construtora Valor, acusada de participar de um esquema de desvios de dinheiro público destinado a obras em escolas estaduais. Em depoimento ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), porém, ele buscou a todo momento destacar que está brigado com o governador Beto Richa (PSDB) e, portanto, não teria como fazer qualquer ponte entre a empresa e o Executivo estadual. Ele disse ainda que o dinheiro recebido da Valor era pagamento por contatos com iniciativa privada.
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Leia a matéria completaCoordenador do Gaeco, Leonir Batisti afirmou recentemente que Borghetti afirmava que “poderia facilitar a tramitação de procedimentos de interesse da construtora e usava o parentesco que tinha para dizer que, com ele, o negócio andaria”.
No depoimento que prestou ao órgão, no entanto, o ex-vereador reservou boa parte do tempo para explicar em detalhes como teria rompido com Richa. Dessa forma, ele procurava demonstrar que não faz sentido a acusação de que atuou em benefício da Valor junto ao governo do estado, por quem é visto como “inimigo” atualmente.
Laços rompidos
Irmão da vice-governadora Cida Borghetti (Pros), Juliano Borghetti frisa que está brigado com o governador Beto Richa (PSDB) e, portanto, não teria como fazer qualquer ponte entre a Valor e o Executivo.
+ VÍDEOSExoneração
Segundo ele, o desentendimento ocorreu após ter participado da briga entre as torcidas de Atlético Paranaense e Vasco, em Joinville, no fim de 2013. Borghetti garante que foi apenas retirar o filho da confusão, pois ele estava próximo ao cordão de isolamento com a torcida adversária.
Desvio na Educação
Entenda em um minuto o escândalo de corrupção investigado pela Operação Quadro Negro, que apura o desvio de quase R$ 20 milhões destinados a obras de escolas estaduais do Paraná. Depoimentos colhidos pelo Gaeco citam o envolvimento da alta cúpula da política do estado no esquema.
+ VÍDEOS“Eles riram da minha cara, falaram que eu estava lá para brigar. Tive uma discussão dentro do governo, com o próprio governador, e ele me exonerou [da superintendência da EcoParaná]. Tanto que a gente tinha uma amizade, mas hoje a gente não se cumprimenta, não se olha”, afirmou.
“Nunca [usei a condição de vice da Cida em favor da Valor], nem tenho acesso ao governo. Minha irmã está lá, mas infelizmente com o governo, com o grupo do atual governador, tenho uma inimizade política forte.”
Apesar de dizer que conhece a maioria da cúpula do governo, já que foi aliado de Richa desde os tempos da prefeitura de Curitiba, Borghetti declarou que jamais ligou nem pediu à Casa Civil ou à Secretaria de Educação “para pagar alguma coisa” à Valor.
Dinheiro recebido da Valor era pagamento por contatos com iniciativa privada, diz Borghetti
Ao Gaeco, Juliano Borghetti também tentou esclarecer o dinheiro que recebeu da construtora Valor. Segundo ele, após sair desgastado do governo, muitas portas se fecharam e sua situação de vida ficou muito difícil. Por isso, procurou o verdadeiro dono da Valor, Eduardo Lopes de Souza, com quem relata ter uma forte amizade há mais de 20 anos. E pediu se o amigo “podia arrumar alguma coisa”.
O acordado foi que Borghetti faria uma experiência de três meses, buscando contatos com a iniciativa privada para baratear os valores das obras da Valor. Para isso, recebeu R$ 15 mil mensais em espécie, entre fevereiro e abril do ano passado. No entanto, como o trabalho não prosperou, foi logo encerrado.
A versão contada por Eduardo Souza ao Gaeco é idêntica à de Borghetti. “[Fiz] em nome da nossa amizade, mais até para ajudar ele, porque estava numa situação difícil. Nunca [tratamos de ajuda no governo do estado], porque eu sabia que ele não conseguiria, estava até meio brigado com o governador na época.”
No entanto, Vanessa Domingues de Oliveira, laranja que figura como proprietária formal da Valor, afirma que o ex-vereador foi seis ou sete vezes à sede da empresa em 2014 para receber o salário de R$ 15 mil. “Ele era uma espécie de funcionário fantasma [da Valor]. Não [tinha registro com a construtora]. [Ele recebia salário] para ajudar a adiantar os pagamentos da Valor na Secretaria de Educação [...] e na Casa Civil”, declarou ao Gaeco. “Fiquei muito furiosa porque eu que estava com o meu nome [como proprietária da Valor] não ganhava R$ 15 mil.”
No depoimento, Borghetti classificou como “mentira” às afirmações de Vanessa. (ELG)
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