
Partido
Pasta privilegia repasses a militantes
Agência Estado
O mapa de repasses do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, revela que o ministro Orlando Silva alimentou com verbas federais a rede de militantes que, nos últimos anos, o PCdoB instalou em postos-chave do setor esportivo público. Nos últimos dois anos, prefeituras e secretarias municipais do Esporte controladas pelo partido estiveram entre as maiores beneficiadas por recursos do Segundo Tempo, criado para promover atividades físicas entre estudantes.
Entre as prefeituras, de janeiro a outubro de 2011, a que recebeu o maior repasse per capita do Segundo Tempo foi a de Sobral (CE), cidade em que o coordenador do programa é dirigente municipal do PCdoB. Foi quase R$ 1,5 milhão para uma população de 188 mil moradores.
Militantes do PCdoB também administram os recursos liberados pelo ministério para Goiânia (R$ 2,2 milhões) e Fortaleza (R$ 980 mil), duas capitais nas quais o partido conseguiu nomear os secretários de Esporte. Em números absolutos, Belo Horizonte é a líder no ranking das verbas deste ano, com
R$ 2,6 milhões. Lá, o PCdoB só não ocupa ainda a Secretaria de Esportes porque sua criação está pendente de aprovação pela Câmara. O partido já acertou a adesão ao governo do prefeito Márcio Lacerda (PSB), além do apoio à sua reeleição.
O Ministério do Esporte, em nota, negou que use critérios político-partidários para distribuir os recursos.
Embora o ministro Orlando Silva (PCdoB) tenha sido mantido no cargo por decisão da presidente Dilma Rousseff, as denúncias de corrupção envolvendo o Ministério do Esporte e seu partido se intensificaram. Neste sábado, o jornal Folha de S.Paulo publicou entrevista em que um pastor acusa o PCdoB de ter pedido propina para receber verba da pasta destinada a um projeto tocado por sua igreja. A nova edição da revista Veja traz reportagem acusando assessores do ministro de terem ajudado o policial João Dias, que hoje denuncia Silva, a enganar a fiscalização. E a revista IstoÉ revela o depoimento de uma testemunha que afirma que o mentor do esquema de corrupção era o ex-ministro e atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (ex-PCdoB, hoje no PT).
A Folha de S.Paulo do sábado traz a entrevista do pastor David Castro, fundador da Igreja Batista Gera Vida. A igreja, por meio de um convênio com o Ministério do Esporte assinado em 2006, recebeu R$ 1,2 milhão para desenvolver atividades esportivas a crianças carentes. O contrato foi apresentado a Agnelo, mas assinado por Silva, que na época já tinha assumido o ministério.
Segundo o pastor, ele foi pressionado a repassar 10% do dinheiro para os cofres do PCdoB. Filiado ao PP, Castro disse que se recusou a pagar a propina e que, por isso, sofreu retaliação. "Na hora da prestação de contas [do convênio], houve dificuldade porque evidentemente não houve propina."
O ministério afirmou ao jornal ser mentira que o projeto do pastor foi reprovado por que não houve pagamento de propina. Segundo a pasta, a prestação de contas não foi aprovada porque ele não cumpriu os requisitos legais.
Privilégios
Já a revista Veja informou ter tido acesso a conversas gravadas, em abril de 2008, entre o policial militar João Dias e dois assessores do ministro Orlando Silva. A gravação provaria que o PM gozava de privilégios na pasta, apesar de hoje ele ser chamado de "desqualificado" por Silva.
João Dias, na época filiado ao PCdoB, é dono de duas ONGs que mantinham convênios com o ministério. Em 2008, o próprio ministério havia enviado à Polícia Militar do Distrito Federal um documento responsabilizando o policial Dias, membro da corporação por irregularidades de R$ 3 milhões no convênio.
Segundo o relato da revista, na conversa o assessor ministerial Fábio Hansen deixa claro a Dias que eles estavam tentando "remediar" o problema. "A gente pode mandar lá [na PM] um ofício desconsiderando o que a gente mandou", diz outro assessor do ministério, Charles Rocha, segundo a Veja. Hansen completa: "Você faz três linhas pedindo prorrogação de prazo [para prestar contas]". Depois, Hansen completa, orientando Dias fraudar a prestação de contas, apresentando um pedido de prazo "com data anterior à notificação". E foi isso que ocorreu, segundo a PM. O documento foi encaminhado à polícia, conforme combinado.
Segundo a Veja, após o acerto, o clima da reunião ficou mais ameno e o policial revelou que militantes do PCdoB tinham sumido com dinheiro que deveria ir para o partido, citando o ex-deputado Fredo Ebling. Dias não foi contestado pelos dois assessores. Hansen termina a conversa dando a entender que o ex-ministro Agnelo Queiroz ainda mantinha influência no ministério e sabia de tudo. Segundo Hansen, Agnelo teria ficado "indignado" ao saber da situação em que estava João Dias.
A revista Veja procurou Hansen, que não quis falar. O ministério negou que tenha tido a intenção de proteger João Dias.
Chefe verdadeiro
A influência de Agnelo no ministério e sua participação no suposto esquema de corrupção no Esporte também é relatada em reportagem da revista IstoÉ. Em entrevista à revista, o auxiliar administrativo Michael Alexandre Vieira da Silva afirma que Agnelo é quem era o verdadeiro "chefe" do esquema de desvio de recursos do Esporte.
Michael Silva foi a principal testemunha da Operação Shaolin, deflagrada no ano passado pela Polícia Civil do Distrito Federal e na qual foram presas cinco pessoas, entre elas João Dias. Michael trabalhou nas ONGs comandadas por Dias. Sobre esse período, ele fez uma revelação à revista: "Saquei R$ 150 mil para serem entregues [de propina] a Agnelo [então ministro]", disse ele na entrevista.
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