A divulgação de supostas irregularidades da gestão do presidente da Câmara, João Cláudio Derosso (PSDB), dividiu as opiniões das lideranças do Legislativo. Para alguns, é necessário cautela na hora de avaliar essa questão. Para outros, no entanto, as denúncias seriam suficientes até para a cassação do vereador.
Líder da oposição, o vereador Algaci Tulio (PMDB) prefere não julgar o presidente da Câmara antes que ele dê as devidas explicações. "Essa licitação não é do meu tempo [ela foi feita em 2006; Algaci foi eleito em 2008]. Então não posso saber se houve irregularidades", disse. Para ele, as denúncias são suficientes para que se faça uma sindicância interna. "Tenho certeza que ele vai esclarecer o caso."
Já a vereadora Professora Josete (PT) foi mais incisiva nas cobranças ao presidente da Casa. "As denúncias são muito graves. Se tudo ficar provado, os vereadores têm que tomar uma medida drástica. Cabe, inclusive, a cassação", afirmou. Para ela, o valor dos contratos é exagerado se comparado com o que se vê de publicidade da instituição na cidade. Apesar disso, ela disse não acreditar em grandes consequências das denúncias. "Sou cética quanto a isso. Os parlamentares são pautados pelo corporativismo", disse.
Outro que criticou publicamente Derosso foi o ex-vereador e hoje deputado federal Doutor Rosinha (PT). "O presidente da Câmara tardou a cair. Não há instituição que fique 14 anos sob o comando da mesma pessoa e que seja livre de desvios de conduta", declarou o deputado, se referindo à longevidade de Derosso no comando da Casa. Apesar da gravidade das denúncias, ele disse estar pessimista em relação à Câmara. "Acho que, nessa legislatura, não vai mudar nada. A única coisa que poderia mudar algo na Câmara seria a resposta do eleitor, no ano que vem."
Líder do governo na Câmara e colega de partido de Derosso, o vereador João do Suco (PSDB) amenizou a questão. "Não posso dizer se está certo ou errado. Em um primeiro momento, ela não era esposa dele e o processo licitatório foi normal", afirmou. Sobre os altos valores dos contratos, o vereador disse não ter subsídios para opinar sobre o assunto. "Não posso avaliar os gastos apenas pelo senso comum. Teria que fazer uma avaliação aprofundada antes de opinar." João do Suco diz, também, que deve aguardar a finalização do processo para ver o que será feito.
Caso paradigmático
Para o cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adriano Codato, trata-se de um caso paradigmático da política brasileira. "Cada vez mais, políticos em todos os níveis perderam a relação com o mundo real, especialmente no Legislativo", explica. Segundo Codato, como a política acaba se distanciando dos eleitores e girando em torno de si, certos desvios acabam se tornando legítimos sob a ótica dos políticos.
Já segundo o cientista político Fabrício Tomio, também da UFPR, a eternização de Derosso no comando da Câmara favoreceu os desvios de conduta. "O fato de alguém ficar continuamente na presidência da Casa é um indício de que há algo irregular. Quando um grupo controla sozinho a Mesa Diretora é provável que haja desvios", afirma.
Para Tomio, a rotatividade dificulta que esses esquemas sejam prolongados. Além disso, quando os vereadores competem por poder dentro da Casa, a denúncia de irregularidades passa a fazer parte do jogo. "Se ele não tivesse segurança de que não aconteceria nada, provavelmente não cometeria esses desvios", explica.
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