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Após sofrer 23 anos com fortes dores abdominais e na coluna, a dona de casa Maria Abadia Dias de Oliveira, de 47 anos, finalmente conseguiu diagnóstico para seu martírio: um raio X apontou que ela carrega um bisturi dentro do abdômen. A lâmina de aproximadamente cinco centímetros teria sido esquecida por médicos durante uma cesariana em 1984 no Hospital Municipal de Campos Belos, a 625 quilômetros de Goiânia. Maria Abadia deve se submeter a uma cirurgia para retirada do bisturi no fim deste mês.

Ainda abalada emocionalmente, a dona de casa conta que passou metade da vida tentando descobrir a causa das sensações estranhas que sentia na barriga. Nesse período, se tratou com vários médicos em Itauçu, a 60 quilômetros de Goiânia, onde mora atualmente com a família. No entanto, o diagnóstico era sempre o de dores lombares e na coluna.

- Os doutores diziam que eu não tinha nada, que aquilo era coisa da idade - relembra indignada. Para amenizar o incômodo, ela tomava analgésicos e anti-inflamatórios freqüentemente.

O drama de Maria Abadia começou com complicações no parto da filha mais nova, Queila Franciele Dias, de 23 anos. Na época, ela morava na zona rural de Campos Belos e foi levada para o Hospital Municipal da cidade, onde se submeteu à uma cesariana para retirada do bebê. Após o procedimento, ela ficou três dias em coma e levou meses se recuperando do pós-operatório.

- Nunca mais tive a mesma saúde e não entendia porquê - rememora.

As dores sentidas por Maria Abadia se intensificaram a partir de 2004, mas só em dezembro do ano passado, um ortopedista de Goiânia solicitou uma radiografia do tronco. O resultado do exame ficou pronto no início deste mês. Ao receber o diagnóstico, ela relata que desabou no colo da filha mais velha, Andrea Dias.

- Meus lábios tremiam e eu tinha vontade de gritar. Queria que a cirurgia para retirada da lâmina fosse feita imediatamente - conta.

O cirurgião Henry Taia, que fará a operação para remover o bisturi, disse que o organismo de Maria Abadia só tolerou bem o corpo estranho porque o metal não provoca grandes reações.

- Queremos saber qual a melhor forma de acesso, pois, a lâmina pode estar grudada no intestino e a retirada pode agravar o quadro - afirmou.

A cirurgia considerada de médio porte será realizada no Hospital Geral de Goiânia (HGG). Taia explica que nesses 23 anos a lâmina migrou na barriga de Maria Abadia e hoje está localizada no lado esquerdo cerca de 30 centímetros acima da cicatriz da cesariana. Ele evitou fazer críticas ao procedimento anterior, mas reconhece que a dona de casa foi vítima de uma negligência médica.

Segundo o cirurgião, o diagnóstico correto do problema só demorou tanto porque Maria Abadia se queixava de dores lombares e na coluna que são comuns em várias pessoas.

- Ela não reclama de tantas dores no local onde está a lâmina - observa.

Maria Abadia afirma que pretende processar os responsáveis pelo Hospital Municipal de Campos Belos, mas isso só será feito após a retirada do bisturi. Ela conta que, além dos danos à sua saúde, sofreu danos morais já que enfrentou vários tipos de constrangimento como o de não conseguir passar em portas com detector de metais. A direção da unidade informou que formará uma comissão para averiguar o prontuário da paciente. Segundo uma funcionária do hospital, os arquivos antigos estão na Secretaria de Saúde de Campos Belos e levará tempo para serem analisados.

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