O presidente Michel Temer decidiu mudar de estratégia para evitar que novos escândalos envolvendo auxiliares ampliem a crise política no governo. A ideia é que todo ministro sob investigação na Comissão de Ética da Presidência peça afastamento do cargo até a conclusão do processo.
A alternativa chegou a ser proposta por Temer ao então ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, três dias antes de sua demissão. Geddel não concordou e acabou caindo após puxar a crise para o Palácio do Planalto.
Batizado de saída “a la Hargreaves”, numa referência a Henrique Hargreaves, então ministro da Casa Civil do governo Itamar Franco (1992-1994), o modelo está sendo planejado sob medida para blindar Temer e criar uma espécie de rede de proteção em torno do Planalto. Na administração de Itamar, que tomou posse após o impeachment de Fernando Collor (PTC-AL), hoje senador, Hargreaves foi acusado de desvio de verbas públicas. Pediu exoneração do cargo enquanto transcorriam as investigações contra ele e voltou à chefia da Casa Civil três meses depois, quando ficou provado que as denúncias eram infundadas.
Temer quer seguir esse exemplo como código de conduta de sua gestão. Em conversas reservadas, ele tem dito que está “cansado de apanhar” e vem pagando “um preço muito alto” por erros e irregularidades cometidas por ministros.
Na tentativa de mostrar que não é conivente com falcatruas, o presidente conhecido por nunca demitir ninguém já avisou que considera “adequado” o afastamento de um auxiliar no período das investigações na Comissão de Ética. O colegiado não tem poder de punir, mas apenas de recomendar ao chefe do Executivo penas que vão da advertência à exoneração.
No Planalto, a avaliação é de que a demissão de Geddel ameniza, mas não acaba com a crise. A preocupação, agora, é com as votações no Congresso e com os reflexos da turbulência política na economia.
Odebrecht
Outro ponto é que a ameaça das delações de executivos da empreiteira Odebrecht, no âmbito da Lava Jato, também ronda o Planalto. É por isso que a saída de Geddel não tira a crise de cena.
Mesmo assim, no diagnóstico de interlocutores do presidente, foi um gesto necessário - embora atrasado - para salvar o governo, alvejado após o depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal.
O diplomata disse que Temer tentou fazer com que ele “interferisse indevidamente” para que a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), barrando a construção do prédio La Vue, em Salvador, fosse submetida à Advocacia Geral da União (AGU).
Comunicação
A crise também está fazendo o governo reavaliar a sua política de comunicação. Há divergências entre o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, sobre o novo modelo a ser adotado. A percepção dos próprios aliados é a de que Temer vem perdendo a batalha da comunicação por não dar respostas imediatas à agenda negativa e muito menos conseguir criar uma marca de governo.
Na tentativa de mostrar que não compactua com irregularidades, o presidente disse que vetará a proposta de anistia para caixa 2 eleitoral, caso seja aprovada pelo Congresso. A intenção só foi manifestada após o tema ser rechaçado pela sociedade e virar alvo de uma campanha contrária nas redes sociais.
Em almoço no Palácio da Alvorada, na sexta-feira, com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do senador Aécio Neves (MG), Temer ouviu que o PSDB foi o primeiro a defendê-lo nessa temporada de acusações. Nos bastidores, houve quem lembrasse que a oposição, apesar de minoritária, tem conseguido fazer mais barulho no Congresso do que os próprios aliados do governo.
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