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Quando a deputada federal do nanico PTN Renata Abreu (SP), 32, decidiu ler a íntegra de uma proposta no plenário da Câmara, levou um pito de um colega. “Brincadeira que você vai ler todo o projeto? No máximo, a gente lê o resuminho... e daqui a três meses, nem isso”, disparou.

O que já é praxe na rotina do Legislativo causou espanto na novata. “Afe! Só fazendo cara de Mona Lisa para ouvir uma coisa dessa”, lamentou em seu blog.

Desde o início do ano, a congressista narra em um diário virtual os bastidores da Câmara: fatos que considera inusitados e contraditórios em sua atuação parlamentar. Filha do ex-deputado José de Abreu (PTN-SP), que deixou a Câmara em 2002, Renata conquistou 86.647 votos e é presidente estadual do partido.

A inspiração para virar deputada-blogueira veio dos pedidos para dar transparência ao mandato. Segundo ela, o diário virtual tem mil acessos semanais e a ideia não é mostrar só pontos negativos, mas as dificuldades de um político. “Queria mostrar um pouquinho do que é isso aqui. Eu tinha pai deputado e não fazia ideia de muita coisa. Sem conhecer esse bastidor, as pessoas não sabem o que podem melhorar”, disse.

“Não tenho amarras com ninguém, posso ser independente e falar o que penso”, completou. Assim, sobrou até mesmo para o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), profundo conhecedor do regimento interno e de como usá-lo a seu favor.

Sobre votações simbólicas, quando os parlamentares não precisam usar o painel de votações, ela soltou: “Têm vezes em que o presidente da Câmara fala o costumeiro ‘quem está de acordo permaneça como está’ e todo mundo se levanta. Mesmo assim, ele anuncia: ‘aprovado’”.

A pressão para receber eleitores foi alvo de postagem. “O povo não tem ideia do que é ser deputada. Não dá para ficar no gabinete porque não para de chegar gente.” Os comentários são gravados em um aplicativo de voz em seu celular e a assessoria transcreve para o blog.

Identificação

Apontada como “insistente” por um colega, talvez ela consiga mudar uma das regras mais antigas da Casa: a identificação dos congressistas. O broche usado pelos 513 deputados, foi criticado pela parlamentar, que o transformou em um pingente. “Fura toda a nossa roupa. O apetrecho foi planejado para os homens, que têm lapela nos ternos”, sugeriu.

Já reclamou também do uso de manobras regimentais para travar a votação de matérias é muito comum bancadas ou congressistas obstruírem a discussão diante de um tema espinhoso. “As pessoas que são contra a aprovação de um projeto recorrem ao ‘kit obstrução’. Aí eu me pergunto: em algum momento ele vai perder, não tem jeito, então, por que atrasar?”, questionou.

“É tudo combinado antes: quem vai ser a chapa e quem são os eleitos”, afirma, sobre a escolha do comando de uma comissão da reforma política, que virou sua prioridade. “Então, por que eu vou lá na urna eletrônica votar? Há coisas que só na política deste país.”

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