Eurides Brito: dinheiro não era propina, mas verba de campanha eleitoral| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Brasília - A deputada distrital Eurides Brito (PMDB), filmada colocando dinheiro na bolsa, foi cassada hoje pela Câmara Legislativa do Distrito Federal por quebra de decoro parlamentar. Por 16 votos a 3, os deputados distritais entenderam que o vídeo em que aparece recebendo pacotes de dinheiro do delator do men­­­salão do DEM, Durval Barbo­­­sa, comprova a participação da deputada no esquema – escândalo político que atingiu a cúpula do governo do Distrito Federal, levou à prisão do ex-governador José Ro­­­­berto Arruda e trouxe a ameaça de intervenção federal sobre Brasília.

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Relatora do processo de cassação, a deputada distrital Érica Kokay (PT) pediu a cassação de Eurides por quebra de decoro parlamentar. A petista classificou o esquema de distribuição de propina como uma "quadrilha". "Não interessa quando se deu o crime, mas sim se foi crime. E crime de formação de quadrilha é de natureza continuada", disse a relatora.

Graças a uma decisão judicial conseguida por Eurides no Tri­­­bunal de Justiça, na véspera da sessão, os deputados não foram obrigados a votar em aberto – como manda a lei distrital. A parlamentar fez o mesmo pedido ao STF, que arquivou a reclamação.

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Em sua defesa, Eurides afirma que o dinheiro que recebeu de Durval não era propina do mensalão do DEM, e sim verba da campanha de 2006. Segundo ela, a origem do dinheiro era o ex-governador Joaquim Roriz (hoje no PSC), que, na época, preparava campanha para o Senado pelo PMDB. A assessoria de Roriz nega.

No início do ano, Eurides afirmou em sua página na internet ter feito reuniões com lideranças políticas entre maio e junho de 2006. "Seria difícil reunir 200 ou 300 lideranças (...) se não fosse como reunião de confraternização, tipo café da manhã, almoço ou galinhada no jantar com grupo musical para animar", explica ela. Eurides sustenta que Roriz a mandou passar no gabinete de Durval Barbosa para pegar o dinheiro das reuniões.

A deputada não compareceu à sessão. Além da parlamentar, os deputados distritais Leonardo Prudente (sem partido) e Júnior Brunelli (PSC) foram filmados recebendo dinheiro do delator do mensalão. Ao contrário de Eurides, Prudente e Brunelli preferiram renunciar ao cargo e evitar a cassação.

Na sessão de ontem, o advogado Jacques Domenico, representante da deputada, sustentou que ela não poderia ser cassada por um ato anterior ao mandato. "No Se­­­nado e na Câmara, nenhum parlamentar pode ser cassado por ato anterior ao mandato. O mandato é a partir de 2007 e a prova é de 2006", disse.

A permanência de Eurides no PMDB causava constrangimento ao PT, que fez aliança com o partido para a eleição de outubro depois de tanto criticar a deputada. Com a cassação da deputada, quem assume é o deputado distrital Ro­­­berto Lucena (PR), irmão do empresário Gilberto Lucena, suspeito de ter abastecido o mensalão do DEM. Ele se absteve de votar.

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