Brasília (Folhapress) O deputado José Dirceu (PT-SP) reagiu irritado ao relatório de Júlio Delgado (PSB-MG) pela sua cassação, dizendo que ele é produto de "má-fé". Antes, em sua defesa no Conselho de Ética, disse: "Não sou corrupto". E que não iria fugir das responsabilidades como muitos fugiram. "Eu não fujo."
"Acredito que o voto do relator continua na linha de buscar uma prova para me cassar. Ou seja, me condenaram, buscam uma prova. Na verdade, é um voto de má-fé", declarou Dirceu em sua primeira reação depois da leitura do parecer. Mais tarde ponderou que "respeitava" o trabalho de Delgado.
Antes de conhecer o parecer, Dirceu apresentou uma defesa oral no Conselho, procurando transformar as acusações que pesam contra si em um julgamento político do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sem citar nomes, Dirceu insinuou que membros do alto escalão do governo têm responsabilidade política pela crise no PT, mas não a assumem.
"O que está em jogo é o PT e o governo do presidente Lula e não apenas as denúncias de corrupção e/ou de utilização de recursos irregulares. (...) Sei da minha responsabilidade política. Muitos fugiram, eu não fujo", disse Dirceu, falando de improviso e pausadamente ao plenário do Conselho por cerca de 15 minutos.
Para reforçar sua linha de raciocínio, o deputado traçou um paralelo entre o momento atual e ações anteriores para derrubar governos democráticos.
"Mar de lama"
No que já é tradição entre governistas na atual crise, o petista citou o "mar de lama" que derrubou Getúlio Vargas (1954), as tentativas de desestabilizar Juscelino Kubitschek (1956-60) e a derrubada de João Goulart (1964).
"De certa maneira estamos revivendo outros períodos da história do Brasil. Eu lia hoje [ontem] o discurso que Juscelino fez antes de ser cassado pela ditadura militar. O Brasil viveu momentos como esse contra o Getúlio Vargas, no "mar de lama. O golpe de 64 foi dado contra a corrupção e a subversão", afirmou.
Ao detalhar sua responsabilidade política, Dirceu disse que se restringe aos atos praticados enquanto esteve na direção do PT. Mas ele se recusa a responder por qualquer coisa que tenha sucedido com o partido no período em que esteve na Casa Civil, apesar da relação política próxima que manteve com a cúpula petista.
A fala, em certos momentos, foi contraditória. Primeiro o ex-ministro reclamou de ter sua vida "devassada" nos últimos 150 dias.
Depois, disse que a experiência tem sido uma das melhores coisas que já lhe aconteceu, porque permitiu a ele fazer uma autocrítica e enxergar erros cometidos os quais não detalhou.
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