Opinião
Explicações pouco convincentes
Pressionado depois da descoberta de que usou jatinho de um doleiro acusado de várias ilegalidades, o deputado André Vargas disse que não sabia com quem estava se relacionando. A conclusão é de que o deputado não deve ter acesso ao Google. Tivesse, poderia digitar o nome de Alberto Youssef e ver o que acontece. Nos primeiros resultados, ficaria sabendo de possíveis ligações do doleiro com esquemas como o mensalão, de acusações de lavagem de dinheiro e de sentenças contra ele em função de evasão de divisas. Só para começar.
Como não vê o Google, Vargas ficou amigo de Youssef. Ou melhor: o deputado diz que os dois não são amigos. Trata-se de um "conhecido corriqueiro", disse o deputado. Ora, a ligação de quem empresta um jato para o outro não é de "conhecido corriqueiro". Algum conhecido corriqueiro já ofereceu jatinhos para que você escolhesse destinos de férias com a família?
André Vargas também é um homem de poucos contatos. Fosse uma pessoa mais bem relacionada, poderia facilmente descobrir de quem era o avião que estava tomando emprestado para viajar com a família. Diz ele, no entanto, que não sabia. Apesar de os dois terem trocado mensagens chamando-se de irmãos e de terem combinado o empréstimo da aeronave, o deputado diz não saber que o avião era de Youssef.
Dadas a falta de consistência das explicações do deputado, que só vem admitindo os fatos à medida que eles são descobertos, sua credibilidade ficou, no mínimo, abalada. É preciso que ele mostre o mais rapidamente possível que tem uma explicação para aquilo que, no momento, parece inexplicável.
Rogerio Waldrigues Galindo, jornalista da Gazeta do Povo
Vice-presidente da Câmara dos Deputados, o paranaense André Vargas (PT) admitiu ontem que conhece o doleiro Alberto Youssef "há mais de 20 anos, como um importante empresário de Londrina". Disse ainda que ambos mantêm "relações sociais", mas que elas seriam apenas "esporádicas". A ligação entre os dois consta das investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), que flagrou troca de mensagens em que Youssef acerta o aluguel de um avião para Vargas. Parlamentares de oposição cobraram explicações sobre o caso, revelado por reportagem do jornal Folha de S. Paulo. O petista prometeu se manifestar em plenário hoje.
Youssef foi preso no Maranhão, em 17 de março, suspeito de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões. A conversa com Vargas ocorreu por meio de um aplicativo para telefone celular chamado BBM, no dia 2 de janeiro. O avião não pertence ao doleiro, que teria apenas intermediado a locação para o voo entre Londrina e João Pessoa, na Paraíba, para onde o deputado viajou de férias com a família.
Outra reportagem sobre o caso, publicada no site da revista Veja, diz que a aeronave fretada é um Learjet 45, de propriedade de uma empresa da Bahia. O custo da viagem, segundo a revista, teria sido de R$ 100 mil. De acordo com a matéria da Folha, Vargas teria declarado que pagou pelo combustível da aeronave e que só procurou Youssef porque os preços das passagens em voos comerciais para o período estava muito alto.
Em resposta à Gazeta do Povo por e-mail, o deputado apresentou outras explicações. "Procurei-o sabendo que ele havia sido dono de um hangar, e conhecia o meio. Foi a primeira vez que tratei com ele sobre assunto semelhante. Procurei reembolsar as despesas com combustível, em torno de R$ 20 mil, mas ele não aceitou", disse Vargas no texto.
A Folha também descreve que a PF interceptou outra conversa entre os dois, que aborda assuntos de interesse de Youssef no Ministério da Saúde. O diálogo envolveria a empresa Labogen, que teria feito remessas ilegais de US$ 37 milhões ao exterior, segundo investigações da Polícia Federal. Vargas cita conversas com uma pessoa identificada como "Gadelha", que seria o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do ministério, Carlos Gadelha.
Explicações
Líderes de oposição cobraram explicações de Vargas. "Qualquer homem público não pode ter relacionamentos desse tipo, ainda mais com uma pessoa com uma biografia conturbada como Alberto Youssef", afirmou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE). "Tivemos outros tantos casos recentes envolvendo uso de avião e, mais uma vez, cabem respostas públicas", disse o líder do Solidariedade, Fernando Francischini (PR).
Na contramão, o líder do PT, Vicentinho (SP), disse que o partido confia em Vargas. "Se o Eduardo Azeredo, que está sendo condenado à prisão, fugiu para não se explicar no plenário, por que exigir isso do André Vargas?", questionou.
Desde os anos 90, Youssef é suspeito de irregularidades
Chico Marés
O doleiro Alberto Youssef é uma figura conhecida e esteve envolvido diretamente em pelo menos dois grandes escândalos de corrupção no Paraná ocorridos entre o fim dos anos 90 e o início dos anos 2000. Além disso, ele chegou a ser suspeito de ter ligações com o mensalão algo nunca comprovado. Em um dos casos, chegou a ser condenado pela Justiça Federal. Mas se beneficiou de uma delação premiada.
No fim de 2002, ainda no governo Jaime Lerner, Youssef esteve envolvido no caso Olvepar. A empresa, que já estava falida, vendeu créditos de ICMS para a Copel por R$ 39 milhões. A operação foi autorizada pelo então secretário da Fazenda, Ingo Hubert, e pelo ex-conselheiro do Tribunal de Contas Heinz Herwig. O doleiro foi flagrado em vídeo sacando dinheiro da transação em uma agência bancária juntamente com um advogado da Olvepar e o tesoureiro da Copel. Os recursos teriam sido depositados em contas de microempresas do Rio de Janeiro.
Em 2003, o Ministério Público ingressou com uma ação civil pública e uma ação criminal, por formação de quadrilha, contra Youssef e os outros envolvidos no caso. Onze anos depois, nenhuma das duas ações chegou a ser julgada. A primeira tramita na 3.ª Vara da Fazenda Pública e a outra na 2ª Vara Criminal de Curitiba.
Caso Banestado
Já em 2004, Youssef foi condenado pela Justiça Federal por participação em um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas por meio das chamadas contas CC5 do Banestado os crimes ocorreram no final da década de 90. Um dos principais envolvidos do esquema, Youssef admitiu ter movimentado mais de R$ 5 bilhões ilegalmente, através de contas na agência do Banestado em Nova York (EUA). Entretanto, ele assinou um acordo de delação premiada e, em troca de sua pena, repassou informações e se comprometeu a deixar o mercado de dólares o que, de acordo com as investigações da operação Lava Jato, não ocorreu.
Mensalão
Ligado ao deputado José Janene (PP), morto em 2010, Youssef também é suspeito de ter vínculos com o mensalão do PT, escândalo que veio à tona em 2005. Ele é suspeito de ser o verdadeiro dono da corretora Bônus-Banval, utilizada no repasse de R$ 1,2 milhão para os parlamentares Pedro Henry (PP), Pedro Correia (PP) e Janene. Enivaldo Quadrado, oficialmente o dono da corretora, que foi condenado no processo do mensalão, seria seu laranja, segundo suspeita a PF. Em depoimento à CPI dos Correios, em 2005, Youssef negou qualquer relação com a empresa. Essa suposta relação também está sendo investigada pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato.
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