Dez por cento. Esse foi o valor da comissão cobrada pelo deputado Jovair Arantes (PTB-GO), líder do PTB na Câmara, organizador do bolão entre os deputados que assistiram ao jogo do Brasil contra a Coreia do Norte no cafezinho do plenário da Casa. Com dez apostas, cada uma ao preço de R$ 50, o bolão teve apenas um acertador. O deputado Hugo Leal (PSC-RJ) marcou o placar de 2 a 1, mas foi surpreendido ao receber o dinheiro. No lugar de R$ 500, levou R$ 450 com a brincadeira.
"Esse é da banca. Em todo cassino é assim", argumentou Arantes. O clima era de brincadeira, mas o organizador não cedeu. "Eu sou a banca. A banca tem de ter dinheiro", repetiu.
Os deputados apostaram alto na vitória do Brasil. O líder do PSDB, João Almeida (BA), cravou 6 a 1; o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), quarto secretário da Mesa, arriscou 5 a 1. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), pareceu mais modesto, 3 a 1.
O grupo resolveu assistir ao jogo no café do plenário convocado por Vaccarezza. Mesmo sem expectativa alguma de votação, a Câmara marcou sessão para a noite de hoje como forma de atrair deputados a Brasília e tentar salvar alguma votação amanhã à tarde, com um quórum mais alto.
Um segundo bolão foi feito pelo grupo. Nele, ganhava quem acertasse o número da camisa do jogador que fizesse o primeiro gol do Brasil. Os papéis dobrados com os números foram retirados por cada um dos apostadores. A sorte esteve com o deputado Paulo Maluf (PP-SP), com o número 2. Ele levou R$ 400. Não conferiu antes e não soube responder se era todo o valor arrecadado com as quotas ou se também pagou comissão.
Em greve de fome no plenário, o deputado Domingos Dutra (PT-MA) e o petista Manoel da Conceição, um dos fundadores do PT, puderam assistir ao jogo em uma TV de 14 polegadas, improvisada no local. Mas não se animaram. Dormiram no primeiro tempo. Manoel da Conceição disse que associava o jogo do Brasil à ditadura militar. "O jogo do Brasil era usado para manipular o povo".