Nenhum deputado saiu ontem em apoio ao colega Elton Welter (PT), líder da oposição na Assembleia Legislativa do Paraná, um dia depois de ele afirmar ter sofrido pressão e ameaças para votar em Fabio Camargo na eleição para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TC), realizada em 15 de julho. Além de negar que tenham sido pressionados, todos os parlamentares que aceitaram dar entrevista sobre o tema exigiram que o petista apresente os nomes de quem o ameaçou, sob pena de deixar toda a Casa sob suspeita. Houve, inclusive, deputados que disseram que, do contrário, Welter é quem pode sofrer consequências.
O pai de Fabio, desembargador Clayton Camargo, é investigado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por tráfico de influência na eleição do TC. Na época do pleito, Clayton era presidente do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ). A suspeita levou a Procuradoria-Geral da República (PGR) a pedir o afastamento de Fabio do TC. Dias antes, Clayton já havia sido afastado cautelarmente do TJ pelo CNJ, numa decisão que levou em conta essa e outras suspeitas contra o desembargador.
Uma delas envolve a lei de autoria do Executivo e do Judiciário paranaenses aprovada pela Assembleia garantindo ao governo acesso aos depósitos judiciais não tributários de posse do TJ. "Houve uma articulação dos três poderes para a eleição do TC, que forçou a aprovação dessa lei. [Houve] ameaça. Todo mundo tem medo do Poder Judiciário", disse Welter, na última segunda-feira.
Ontem, ao reafirmar as declarações na tribuna da Casa, o petista foi repreendido pelo presidente da Casa, Valdir Rossoni (PSDB). "Quero repudiar as [suas] palavras ao dizer que houve acordo entre os três poderes. Retire o Poder Legislativo desse acordo, por favor", disse o tucano. Mais cedo, Rossoni havia cobrado que o petista apresente provas para que seja instaurado um procedimento disciplinar na Assembleia. "Minha obrigação é cuidar da imagem da Casa, e os 54 deputados foram colocados sob suspeição. Eu reafirmo que não sofri nenhum tipo de pressão."
A cobrança foi feita por vários outros deputados, até mesmo por Enio Verri, presidente estadual do PT. "Se aconteceu com o deputado, ele saberá explicar. Ele é suficientemente responsável para apresentar nomes, até para a Assembleia poder fazer a apuração necessária."
Mais incisivo, o líder do governo, Ademar Traiano (PSDB), chamou Welter de leviano. "Ele deveria ter a grandeza de declinar os nomes de quem o pressionou", destacou. Já o peemedebista Stephanes Jr. afirmou que gostaria de ser solidário a Welter, mas que isso se torna impossível na medida em que ele não diz quem o ameaçou.
Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério Público Estadual comunicou que não tem procedimentos abertos relativos à eleição para o TC e que o procurador-geral de Justiça, Gilberto Giacoia, preferia não se manifestar. Já o TJ informou que, como há uma investigação tramitando no CNJ, não irá abrir qualquer procedimento. O TJ disse ainda que não comentará as afirmações de Welter, uma vez que ele não citou nominalmente qualquer um de seus integrantes. Mais uma vez, Fabio Camargo não retornou ao pedido de entrevista até o fechamento desta edição.
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