Quatro deputados paranaenses que registraram ter em seu poder grandes quantias de dinheiro em espécie para as eleições deste ano foram os principais doadores de suas campanhas nas últimas eleições, em 2010. Levantamento publicado ontem pela Gazeta do Povo revelou que vários candidatos às eleições deste ano no Paraná declararam à Justiça Eleitoral ter "dinheiro em espécie" ou "dinheiro em domicílio". Somados, eles têm pelo menos R$ 5,6 milhões nessas rubricas. Se consideradas outras rubricas que também dão a entender que o político tem dinheiro vivo em mãos, fora de contas bancárias, o valor ultrapassa R$ 22 milhões.
O deputado estadual Caíto Quintana (PMDB) foi o responsável por pouco mais de 50% das doações que sua campanha recebeu em 2010. Segundo registro feito no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Caíto arrecadou R$ 155 mil para sua campanha de reeleição naquele ano. Desse total, R$ 78 mil teriam vindo do bolso do próprio parlamentar, por meio de várias doações em espécie. Apenas uma doação do deputado foi feita em cheque.
Em entrevista à Gazeta do Povo publicada ontem, Caíto afirmou que não tem em mãos os R$ 500 mil que declarou neste ano à Justiça Eleitoral. "Por que eu pus? Para que tenha dinheiro para justificar despesa de campanha. Acontece que eu não tenho R$ 500 mil. E se vierem me questionar de onde veio esse dinheiro, não veio, porque não existe", disse o deputado. Ontem, a reportagem tentou contato com o peemedebista para comentar as autodoações de 2010, mas não conseguiu localizá-lo por telefone.
Deputado federal paranaense a declarar maior quantia em espécie em 2014, Luiz Nishimori (PR) afirmou ter bancado 60% de sua campanha em 2010. Ele doou para o próprio comitê R$ 192 mil dos R$ 321 mil arrecadados. As doações foram todas feitas em espécie. O parlamentar, porém, nega que se trate de uma manobra contábil. Diz que o valor declarado ao TRE na verdade se refere a produtos agrícolas de suas propriedades que mantém em armazéns ou entregou para cooperativas. "Não tenho o dinheiro, mas se precisar vendo isso e faço dinheiro. Vou pôr na campanha se precisar, mas não tenho como dizer agora se isso vai ocorrer.".
Leopoldo Meyer (PSB), deputado federal de primeiro mandato, doou R$ 107 mil dos R$ 168 mil arrecadados por sua campanha de 2010. Já em 2014, ele informou ter R$ 45 mil em espécie. O deputado afirmou que as doações que fez em 2010 foram todas em cheque, "da mesma forma como será nesta campanha". O deputado também afirma que o dinheiro que tinha em 2010 foi usado para outros fins, e não na campanha.
Presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Valdir Rossoni (PSDB) bancou R$ 350 mil dos R$ 583 mil usados em sua campanha passada. Naquele ano, porém, Rossoni disse não ter dinheiro em espécie e que as doações foram feitas em cheque. Em 2014, o tucano afirma ter R$ 100 mil em espécie. A reportagem não conseguiu contato com ele por telefone.