Os deputados estaduais paranaenses de primeiro mandato chegaram à Assembleia Legislativa em um momento de tumulto. Já no primeiro mês de mandato, enfrentaram um pacote de propostas do governo polêmico, uma invasão do plenário e muitos chegaram a entrar na Assembleia dentro de um caminhão da tropa de Choque da Polícia Militar. Em abril, 213 pessoas saíram feridas de uma manifestação me frente à Assembleia. Ao fim do primeiro ano de mandato, alguns se dizem decepcionados com o que viram – mas nem tudo tem relação com o início tumultuado.
Para Felipe Francischini (SD), a decepção deste primeiro ano foi ver que nem sempre a Assembleia se comporta da maneira “legalista” que ele esperava. Titular da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Felipe, que é filho do deputado federal Fernando Francischini (SD), diz que em várias ocasiões viu colegas aprovarem projetos que, na opinião dele, afrontam a Constituição e outras leis. “Curiosamente, foram os deputados mais novos que resistiram a isso algumas vezes”, diz.
Felipe é membro da ala mais jovem da Assembleia, apelidada de “bancada teen”. Embora o nome seja só uma brincadeira (“teen” significa adolescente, em inglês), os deputados dizem que realmente houve certa solidariedade entre os novatos, principalmente no início do mandato – apesar de, obviamente, eles não constituírem uma bancada. Em pelo menos uma ocasião, os “teens” conseguiram que o governo desistisse de aprovar projetos na CCJ – além de Francischini, Maria Victoria (PP), Guto Silva (PSC) e Tiago Amaral (PSB) participaram da “rebelião” dos novatos.
Também deputado de primeiro mandato, Requião Filho (PMDB) não se considera membro da “bancada teen” – até por ter dez anos a mais do que alguns deles. Mas ao chegar à Assembleia Legislativa, diz que também sentiu decepção, embora por outro motivo. “Confirmei uma impressão que já tinha ao acompanhar a vida partidária. A maioria dos deputados não é dona do próprio mandato. Votam de acordo com o que o governo manda”, diz o deputado, que é filho do senador Roberto Requião (PMDB), e faz oposição ao governo Beto Richa (PMDB).
Mas o motivo mais forte para “decepções”, certamente foi o ano de tumultos e até de violência na Assembleia. Para Tião Medeiros (PTB), um raro “teen” que não é filho de políticos conhecidos, foi difícil chegar ao Legislativo num momento em que os deputados foram, literalmente cercados por manifestantes. Mas o importante, segundo ele, é tirar lições dos fatos. “Eu, por exemplo, jamais entraria de novo no ‘camburão’. Assembleia, pra mim, agora, só pela porta da frente”, diz.
Seja pelo desrespeito à lei, pela imposição da vontade do Executivo ou pelo confronto com os manifestantes, um ponto comum ao discurso de vários deputados de primeiro mandato é a dificuldade de fazer conviver o idealismo com a vida real da Assembleia Legislativa. “É uma situação nova e você percebe que muitas vezes o ideal passa longe do real”, diz Tião Medeiros.
Para o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB), os recém-chegados precisam justamente passar por um “amadurecimento” que mostra como as coisas se passam no Legislativo. “Eles vêm com uma nova cultura e querem interpretar a voz das ruas. Mas só o tempo faz com que eles aprimorem o conhecimento”, diz Traiano, para quem o “ímpeto da juventude às vezes leva o deputado a cometer erros”.
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