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Os líderes partidários da Câmara anunciaram nesta quarta-feira, após três horas e meia de reunião na residência oficial do presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP), a criação de um movimento com o objetivo de tomar providências para lutar contra a corrupção. O encontro discutiu os efeitos da Operação Navalha da Polícia Federal, que desvendou um esquema de fraudes em licitações, que teria envolvido até o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, que se demitiu nesta terça-feira.

Segundo líderes presentes à reunião, a conversa entre os deputados foi "emocionante" e de "franqueza absoluta". O líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE), chegou a dizer que "há muitos anos não participava de uma reunião assim".

- Queremos dar instrumentos para a indignação que há na sociedade. Tomamos a decisão de criar um movimento. A Câmara vai estar à altura do desafio de levar o país a outro patamar - disse Chinaglia, que afirmou que ainda não há definição sobre que temas específicos o movimento vai discutir.

O presidente da Câmara disse que os deputados envolvidos em corrupção não serão poupados:

- O espírito corporativo existe em várias atividades do país, mas, se amanhã aparecer algum deputado envolvido, ele será julgado. Não haverá acobertamento. Nós vamos solicitar que o Supremo julgue todos os deputados envolvidos com corrupção - garantiu.

- O que pautou essa reunião foi o instinto da preservação da espécie. Se algo não for feito pra valer, acaba o mandato parlamentar - previu José Múcio.

A idéia do novo movimento contou com o apoio até do líder do DEM, Onyx Lorenzoni (RS):

- Nos unimos e deixamos de lado as diferenças. Este é um movimento que nos une em relação a algo que faz mal a todos - disse.

Ao sair da reunião, o líder do PDT, Miro Teixeira (RJ), disse que as denúncias ficaram mais evidentes agora porque o regime democrático permite a divulgação das informações.

- Na ditadura havia isso e não era divulgado (...) Vamos discutir que providências o Brasil precisa tomar para ter uma vida digna. Os cidadãos comuns sobrevivem com seu dinheiro, por que quando as pessoas vêm para o setor público tem corrupção? - questionou Miro.

Líderes questionam papel dos tribunais de contas nos estados

Segundo Miro, na reunião na casa de Chinaglia, houve lílderes que questionaram o papel dos tribunais de contas dos estados nesses escândalos, argumentando que eles estão sempre a reboque das denúncias feitas por órgãos como a PF. Ou seja, não estariam servindo para nada, nas palavras dele.

O líder do PDT disse ter sugerido um combate firme à sonegação de impostos e regras mais duras que impeçam as empresas suspeitas de negociar com o setor público. Perguntado se o fim do foro privilegiado para autoridades não seria uma proposta positiva nesse sentido, Miro disse que a medida só tem sentido depois que o crime já foi praticado.

- Precisamos evitar que ele aconteça - afirmou.

Miro também não acredita que a instituição do financiamento público de campanha coíba as relações espúrias de políticos com empresas. Para ele, o político recorre a esse tipo de esquema ilítico "porque é ladrão", não por falta de recursos.

Criação de CPI ainda divide parlamentares

Sobre a possibilidade de criação de uma CPI para investigar o esquema desvendado pela Operação Navalha, da Polícia Federal, Miro disse que ainda não há ambiente político para isso. Com um de seus governadores, o alagoano Teotônio Vilela, no olho do furacão da Operação da PF, o PSDB adotou a tática de que o ataque é a melhor defesa e defendeu nesta terça uma CPI mista no Congresso para investigar o esquema de fraudes em licitações públicas . Se forem aprovadas duas novas CPIs na Câmara - há quem queira também uma sobre a Operação Hurricane - a Casa pode ter quatro CPIs funcionando ao mesmo tempo (o máximo permitido pelo regimento é cinco).

O senador Pedro Simon (PMDB-RS), membro da ala oposionista do partido, também defendeu a criação de uma CPI. Ele disse que se "continuarmos vivendo no país da impunidade, o povo vai partir para a insubordinação civil". De acordo com o senador, o envolvimento de autoridades com corrupção vai fazer com a sociedade comece a questionar por que paga impostos.

- Podemos partir para um movimento muito grave, muito sério, de condições imprevisíveis. O povo está saturado, a sociedade está saturada. Há um nojo, uma revolta, há uma indiferença em toda a sociedade brasileira e alguma coisa vai acontecer, isso vai - previu o senador.

Já a presidente do PSOL, Heloísa Helena, quer a instalação de uma CPI mista para conter "excelências insaciáveis". Segundo ela, a intenção de investigar a relação entre autoridades e empreiteiros é antiga entre alguns parlamentares.

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