Deputados estaduais que estão com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa começaram a devolver os documentos ao Detran depois que veio à tona que Fernando Ribas Carli Filho (PSB), que provocou o acidente que matou dois jovens em Curitiba, no último dia 7, não era o único parlamentar que dirigia com a habilitação cassada. Dos 54 deputados, 20 receberam a notificação de suspensão da carteira. Ou seja, alcançaram o limite máximo de 20 pontos em um ano ou cometeram infração gravíssima.
O clima de constrangimento na Assembleia Legislativa ficou evidente ontem. Durante a sessão, muitos deputados fizeram discursos para justificar as infrações, assumiram a culpa pelas multas, distribuíram extratos de pontuação e prometeram isenção no julgamento do processo de cassação de Carli Filho, que corre o risco de perder o mandato justamente por dirigir com a carteira cassada.
O pedido de cassação foi feito pela família do jovem Gilmar Rafael Yared, morto no acidente. Dos cinco deputados que integram o Conselho de Ética que vai julgar o processo de perda de mandato de Carli Filho, quatro têm notificação de suspensão da habilitação. Mesmo os deputados que não integram a comissão estão tentando minimizar o desgaste no caso. O deputado Marcelo Rangel (PPS) disse que entregou ontem a carteira ao Detran, "como qualquer cidadão deve fazer". Ele tem sete multas e 25 pontos na habilitação. "Estou assumindo a responsabilidade e vou fazer o curso de reciclagem (para tirar uma nova carteira)", afirmou.
O petista Péricles Mello, que tem 115 pontos na habilitação, também declarou ontem que entregou a carteira ao Detran. Ele culpou seus motoristas pela maioria das infrações. Caíto Quintana (PMDB) também está com a carteira suspensa, mas ele não foi localizado.
Valdir Rossoni (PSDB) fez um desabafo ontem na tribuna, assumindo as multas e declarando estar cansado de se justificar. Com 17 multas e 64 pontos na carteira, o tucano declarou que, se não merecer a confiança dos eleitores para mais um mandato por causa da polêmica, os eleitores vão mostrar isso na eleição, não votando nele. "Se cometi infração, a responsabilidade é minha. Se não chamei a atenção dos meus funcionários, a responsabilidade também é minha", disse.
O presidente da Assembleia Legislativa, Nelson Justus (DEM), disse que cada deputado vai pagar o preço por ter mais ou menos pontos na carteira. Esse preço seria a suspensão da habilitação, mas isso, segundo ele, não é motivo para denegrir a imagem de nenhum parlamentar. "Essa Casa não se sente diminuída com a fatalidade envolvendo o deputado Carli e nem com os pontos nas carteiras dos deputados."
"Fábrica de multas"
Uma das explicações de Justus para o histórico de infrações dos deputados é uma "fábrica de multas e pegadinhas para surpreender motoristas" que existe em Curitiba e em todo o estado. O próprio Justus tem dez multas e 41 pontos na carteira de motorista, 8 delas por excesso de velocidade.
A explicação mais comum dos deputados é de que os motoristas, assessores e familiares cometeram as infrações. Mas o fato é que o Detran assegura ao dono do veículo que recebeu a multa prazo de 15 dias para recorrer e informar quem era o motorista que estava conduzindo o veículo no momento da infração.
* * * * * * * *
Interatividade
O fato de dois deputados entregarem a carteira suspensa melhora a imagem da Assembleia?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br.
Congresso fecha lista do “imposto do pecado”; veja o que terá sobretaxa e o que escapou
Saiba como votou cada deputado na regulamentação da reforma tributária
Briga com Congresso por verbas do Orçamento revela governo sem margem de manobra
Tarcísio anuncia advogado filiado ao PT como novo ouvidor da Segurança Pública em São Paulo
Deixe sua opinião