A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar casos de grampo telefônico no Paraná nos últimos 12 anos será instalada hoje pela Assembléia Legislativa, mas a previsão dos próprios deputados é que as investigações não vão avançar. Faltando menos de um mês para o recesso parlamentar e com o fim do atual mandato, a CPI corre o risco de sequer iniciar os trabalhos.
Composta por sete deputados, a maioria da base do governo, a comissão tem prazo de 120 dias para ser concluída e apresentar o relatório final.
Hoje serão escolhidos o presidente, o vice-presidente e o relator. Os partidos indicaram ontem para CPI os deputados Natálio Stica (PT), Miltinho Puppio (PSDB), Antônio Anibelli (PMDB), Plauto Miró (PFL), Luiz Carlos Martins (PDT), Duílio Genari (PP) e Jocelito Canto (PTB). Desses, apenas Plauto Miró e Luiz Carlos Martins fazem oposição ao governo.
A criação da CPI foi proposta pelo líder da oposição, Valdir Rossoni (PSDB), antes do primeiro turno da eleição. O argumento era a apuração de um suposto envolvimento do policial civil Délcio Rasera, preso por escuta telefônica ilegal, com o governo do estado.
Para neutralizar a iniciativa da oposição, a bancada do governo, através do deputado Nereu Moura (PMDB), apresentou outro requerimento propondo estender as investigações sobre grampo telefônico nos últimos 12 anos, desde o mandato do ex-governador Jaime Lerner (PSB). Os dois requerimentos foram anexados pelo presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão (PSDB).
Acusando a bancada governista de ter feito uma manobra para desviar o foco do atual governo, o próprio autor do pedido, Valdir Rossoni, se recusou a participar. "Senti um cheiro de pizza no ar e acho que não faz bem à minha saúde. O governo encontrou uma forma de não investigar o Rasera e encobrir o caso. Não vou emprestar meu nome para essa CPI laranja", diz o tucano.
O líder do PFL, Plauto Miró Guimarães, que vai compor a comissão, também prevê dificuldades. "O governo desviou a atenção da CPI para dizer que todos têm o mesmo costume de grampear telefones", afirmou. Outro problema apontado pelo deputado é a falta de provas concretas que possam comprovar o envolvimento do governo com a escuta ilegal.
Para o líder do governo, Dobrandino da Silva (PMDB), não há tempo suficiente na atual legislatura para apurar nada. "Entra o recesso e acaba tudo", diz.
O recesso parlamentar dos deputados começa no dia 15 de dezembro e os trabalhos só recomeçam após a posse dos parlamentares eleitos, em primeiro de fevereiro. A CPI tem validade, segundo o presidente da Assembléia, Hermas Brandão, apenas para o atual mandato, ou seja, não pode ser prorrogada depois de fevereiro.