Um macaco dourado e de tamanho bem razoável conseguiu passar séculos oculto na floresta atlântica nordestina até ser finalmente encontrado no fim do ano passado por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco. A descoberta da espécie foi anunciada ontem e é uma das mais importantes realizadas nos últimos anos no Brasil.
Em primeiro lugar, macacos estão entre os animais mais estudados do mundo e descobrir uma espécie é sempre excepcional. Além disso, o habitat do novo macaco é a Mata Atlântica o bioma mais estudado do país e, justamente, a parte mais ameaçada desta. Ele vive em fragmentos da Mata Atlântica de Pernambuco, da qual restam pouco mais de 2% da cobertura original. A floresta atlântica do Nordeste é a parte mais devastada e vulnerável do bioma no país.
A descoberta reforça também a imensa diversidade de primatas brasileiros. O Brasil é o país com o maior número de espécies de primatas. A última revisão, que será publicada em breve, deve listar 111 espécies, segundo o biólogo Adriano Paglia, da Conservação Internacional. A espécie foi chamada de macaco-prego-louro ou macaco-prego-galego ( Cebus queirozi). O macho adulto pesa cerca de três quilos e mede 40 centímetros. O macaco foi identificado durante um inventário numa fazenda em Ipojuca, Pernambuco.
Jamais imaginaríamos ser possível existir um animal novo para a ciência numa floresta tão fragmentada disse o biólogo Antonio Rossano Mendes Pontes, um dos autores da descoberta.
Cerca de 30 espécimes foram encontrados
Junto com Alexandre Malta e Paulo Henrique Asfora, Pontes descreveu o macaco na revista científica "Zootaxa".
Encontramos cerca de 30 macacos. É uma população ínfima. O macaco-louro pode ser considerado criticamente ameaçado de extinção diz Pontes, que coordena o Laboratório de Estudo e Conservação da Natureza da UFPE.
Ele observa que outros grupos isolados podem existir em remanescentes de Mata Atlântica nos estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte.
É preciso reconstituir essas matas e ligar os fragmentos. Sem isso, não só o macaco-prego-louro quanto outros animais da Mata Atlântica do Nordeste não escaparão da extinção observa o pesquisador, cuja equipe começará agora a buscar outras populações da espécie.
Marcelo Tabarelli, diretor do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste e professor da UFPE, diz que a região onde o macaco foi descoberto chama-se Centro de Endemismo de Pernambuco e tem espécies únicas em todo o planeta.
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