O telefone do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem tocado insistentemente desde a eclosão da crise política. Do outro lado da linha não estão apenas tucanos, mas políticos de outros partidos. No fim da tarde de terça-feira, por exemplo, Fernando Henrique passou duas horas e meia com o líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), para avaliar o momento político e falar do futuro. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), participou apenas da primeira meia hora da conversa, porque saiu para gravar uma entrevista.
Em comum, PSDB e PFL têm a convicção de que, até agora, não há nenhuma razão para pensar no impeachment do presidente Lula. Mas a avaliação de Fernando Henrique e dos senadores é a de que a crise é extremamente grave e o governo não estálidando de forma correta com os problemas. O ex-presidente, como Agripino, atribuiu a essa má condução do governo, e de Lula, os efeitos da crise no mercado financeiro.
- O presidente Fernando Henrique tem a preocupação de quem já foi governo e tem responsabilidade - comentou Agripino.
O desgaste, no entanto, considerou Fernando Henrique, não é apenas do governo. O Congresso, avaliou, vive um mau momento, sob a investigação das denúncias de corrupção e financiamento ilegal de campanha que envolvem parlamentares de vários partidos, inclusive PSDB e PFL. Por isso, não estaria em condições para julgar um presidente em caso de impeachment ou renúncia. Segundo Agripino, essa análise não implica evitar que fatos venham à tona.
- Não vamos enterrar nenhuma investigação - disse o senador.
Antes de sair, Virgílio brincou com o ex-presidente, fazendo uma crítica ao comportamento dos petistas à época do governo tucano:
- O senhor já imaginou se isso acontecesse no seu governo, o que eles não fariam com a gente?
- Imagine só! - concordou Fernando Henrique.
O ex-presidente disse a Virgílio que o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo, deve explicar à CPI dos Correios o quanto antes as denúncias da participação das empresas de Marcos Valério no financiamento da campanha eleitoral de 1998 em Minas. Para Fernando Henrique, o partido deve mostrar que os fatos do passado não são comparáveis ao atual esquema em apuração e, sobretudo, essa comparação não resolve o problema do governo petista.
O encontro aconteceu no apartamento de Fernando Henrique, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. E teve participações esporádicas da ex-primeira dama Ruth Cardoso, que pediu garra aos políticos em Brasília.
- Vocês têm de multiplicar a indignação que as pessoas estão sentindo - afirmou Dona Ruth.
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