A prestação de contas dos deputados estaduais, disponível no Portal da Transparência da Assembleia Legislativa, mostra uma conta um tanto indigesta para o bolso dos paranaenses. Somente o deputado Luiz Fernandes Litro (PSDB), por exemplo, gastou em setembro deste ano R$ 9.034,04 com alimentação. O valor seria suficiente para comprar cerca de 450 quilos de comida em um restaurante por quilo em Curitiba ou para alimentar uma família de quatro pessoas na capital durante um ano. No total, a alimentação dos parlamentares em setembro, quando a Assembleia permaneceu metade do mês em recesso, custou R$ 112.028,48 aos cofres públicos.O caso de Litro é um dos mais emblemáticos do gasto farto com alimentação dos deputados, sobretudo ao se ponderar que ele trabalhou apenas duas semanas em setembro. Tomando por média o preço das refeições em Curitiba nos restaurantes que cobram por peso (R$ 20 por quilo), o tucano, que foi o campeão nesse tipo de gasto no período, comprou nada menos do que 451,7 quilos de comida com recursos públicos. Levando-se em conta a despesa mensal média de uma família com alimentação R$ 695,88, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) , o valor gasto pelo parlamentar seria suficiente para alimentar uma família curitibana de quatro pessoas por um ano e um mês.
Questionado sobre o assunto, Litro justificou que essas despesas são realizadas por assessores em viagem a trabalho pelo interior. "Isso é gasto em trabalho pelos meus assessores, que viajam para fazer projetos e encaminhamentos em toda a minha região", afirmou. "Quem não trabalha é que acha [o valor] muito alto."
Terceiro colocado no ranking dos que mais gastaram com alimentação em setembro, Stephanes Junior (PMDB) teve despesas de R$ 6.178,69 apenas nesse item. Um dado que chama ainda mais a atenção, porém, é o fato de o peemedebista ter gasto R$ 20.975,50 no Restaurante Madalosso desde que o Portal da Transparência entrou no ar, em agosto do ano passado o estabelecimento, que serve rodízio de comidas típicas italianas, é o maior restaurante do país e um dos mais tradicionais de Curitiba. Essa quantia seria suficiente para comprar uma tonelada de comida em um restaurante por quilo na capital ou para alimentar uma família curitibana de quatro pessoas durante dois anos e meio.
"Quando vem a Curitiba, a maioria dos prefeitos não vem sozinho, mas com secretários e assessores. Normalmente, eles são atendidos nas secretarias de estado e, então, meus assessores parlamentares os levam até o Madalosso. Eu nem vou junto", argumentou Stephanes.
Conta alta
Das centenas de notas fiscais referentes aos gastos com alimentação, a que mais salta aos olhos é uma apresentada pelo deputado Antonio Anibelli (PMDB). Nas despesas de setembro, consta uma nota única no valor de R$ 1.164,90 emitida pelo Domenico Comércio de Alimentos, de Curitiba, que é especializado em culinária internacional. O valor seria suficiente para manter a alimentação de uma família de quatro pessoas em Curitiba por quase dois meses.
Anibelli não foi encontrado para comentar o assunto, mas, na última vez em que se pronunciou sobre o tema, o peemedebista afirmou não ver problema em pagar refeições a aliados, em encontros políticos. "Sem comida, você não reúne gente para um encontro partidário", disse, na época.
Na contramão
Se os deputados continuaram gastando altas quantias com alimentação em meio ao período eleitoral, o mesmo não ocorreu com propaganda, cuja rubrica no site é "Divulgação da Atividade Parlamentar". Enquanto a média de despesas com esse item até agosto era de mais de R$ 110 mil, em setembro foram gastos apenas R$ 12.699 pelos parlamentares. A queda se explica pelo fato de a própria Assembleia proibir esse tipo de gasto para fins eleitorais. Curiosamente, um dos únicos a pagar despesas em propaganda, no valor de R$ 7.850, foi o deputado Pedro Ivo (PT), que não disputou a reeleição.