Não bastasse a extensa lista de problemas que Michel Temer (PMDB) já tem de enfrentar à frente da Presidência da República, um aliado fundamental no Congresso adotou discurso de oposicionista. Desde que assumiu a liderança do PMDB no Senado, em fevereiro, Renan Calheiros passou a criticar duramente as decisões do Palácio do Planalto. Como pano de fundo dessa nova postura estão a entrega de postos importantes no governo a adversários do parlamentar em Alagoas e a busca pela reeleição como senador em 2018, que exigiria um descolamento da impopularidade de Temer.
No domingo (2), Renan voltou a usar as redes sociais para atacar o governo. Em vídeo, criticou a sanção da “terceirização irrestrita” e disse que a “insistência” na reforma da Previdência “que pune o trabalhador e o Nordeste” mostra que o governo segue “errático”. “E quem não ouve erra sozinho.”
Antes disso, na noite da última terça-feira (28), os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) foram ao gabinete de Renan no Senado em caráter de urgência tentar pacificar a relação dele com o Planalto. Horas antes, ele e outros oito senadores peemedebistas assinaram uma carta pedindo a Temer que não sancione a lei da terceirização aprovada pela Câmara na semana passada, a qual chamaram de “boia-fria.com”.
Renan, o rebelde
Veja seis momentos em que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi uma pedra no sapato do presidente Michel Temer (PMDB) em 2017:
1. Disse que Temer Temer foi infeliz no discurso do Dia Internacional da Mulher, ao afirmar, entre outras gafes, que as mulheres analisam melhor preços de supermercado
2. Acusou o governo federal de ainda sofrer influência do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao se referir às recentes escolhas de ministros na Esplanada
3. Afirmou que a reforma da previdência tem graves equívocos e uma série de excessos, como a regra de transição, a idade mínima e o tempo de contribuição
4. Liderou o recolhimento de assinaturas de uma carta de parte do PMDB do Senado pedindo a Temer que não sancione a lei da terceirização, a qual chamou de “boia-fria.com” por precarizar as relações de trabalho
5. Apresentou uma proposta no Senado que proíbe o governo de editar Medida Provisória para alterar contratos, mas retirou o projeto na sequência
6. Atacou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao dizer que a ideia do governo de aumentar impostos – a reoneração da folha de pagamento de cerca de 50 setores ainda não havia sido anunciada – para evitar um corte mais robusto no orçamento parecia uma “improvisação”
7. Publicou vídeo em que critica a sanção da “terceirização irrestrita” e disse que a “insistência” na reforma da Previdência “que pune o trabalhador e o Nordeste” mostra que o governo segue “errático”. “E quem não ouve erra sozinho.”
Motivos para a briga
De um lado, Renan se sente desprestigiado pelo governo, que, na avaliação dele, privilegiaria rivais em Alagoas, como o ministro dos Transportes, Maurício Quintella (PR), e o senador Benedito de Lira (PP). “O PMDB se sente fora do governo, mas eu, pessoalmente, não quero cargo nenhum. Seria o meu completo esvaziamento na bancada”, disse o senador ao Estado de S. Paulo. “O que não podemos deixar de constatar é que há uma dificuldade nessa coalizão, na qual os partidos menores ocupam os maiores espaços.”
Além disso, Renan é investigado na Operação Lava Jato, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por peculato e alvo de outros 11 inquéritos na Corte. Por isso, quer se reeleger senador em outubro de 2018 e, assim, manter o foro privilegiado. Hoje, no entanto, as pesquisas eleitorais colocam o parlamentar apenas em terceiro lugar na disputa pelas duas cadeiras que estarão em jogo por Alagoas.
Mais do que isso, os números mostram uma rejeição altíssima a Temer no estado e, ao mesmo tempo, grande aceitação do nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Com essa história de criminalizar todo mundo, o Lula vai fazer um passeio em 2018”, afirmou Renan, em recente conversa com amigos.
Resposta do Planalto
No atual momento, interlocutores afirmam que o Planalto já trata Renan como oposicionista. Dessa forma, Temer teria decidido não responder aos ataques do parlamentar, mas pediu a aliados que neutralizem “gestos hostis” vindos dele para evitar a contaminação de votações cruciais no Congresso, como a reforma da previdência. Além de apostar que os senadores do PMDB que têm corroborado o discurso do alagoano só “criam dificuldades para vender facilidades”, o governo confia no poder de dois peemedebistas de peso: o líder do Executivo no Senado, Romero Jucá (RR), e o presidente da Casa, Eunício Oliveira (CE).
Apesar disso, há quem ainda considere possível reverter o quadro e trazer Renan de volta à base governista. Por isso, já teria sido articulada a inclusão no projeto de recuperação fiscal dos estados de medidas que beneficiem o governo de Alagoas, que é comandado por Renan Filho (PMDB) – ele tentará a reeleição, a exemplo do pai. Outro agrado ao senador alagoano seria a nomeação de um aliado na Secretaria de Portos ou mesmo a recriação do ministério, que hoje está vinculado à pasta dos Transportes.
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