A semana termina na Câmara dos Deputados indicando que a Casa deve mesmo consolidar uma situação inédita, a “gestão compartilhada”, termo carimbado por parlamentares para explicar que o deputado federal Waldir Maranhão (PP-MA) vai continuar com a cadeira máxima, mas suas atribuições, em especial a de conduzir as sessões plenárias, serão divididas entre os demais membros da Mesa, obedecendo à linha sucessória.
Na prática, significa que o primeiro vice-presidente da Mesa, o paranaense Giacobo (PR), que já abriu a pauta de votações do plenário na quarta-feira (18), deve continuar comandando as sessões, enquanto Maranhão, apelidado de “rainha da Inglaterra” pelos pares, deve assumir apenas as tarefas formais e internas.
Nos corredores da Casa, o que se comenta é que, antes rejeitado pela maioria dos deputados federais na esteira do episódio envolvendo o processo de impeachment de Dilma Rousseff, Maranhão depois passou a ser “aceito” a pedido do presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
À imprensa, o peemedebista nega a interferência e são poucos os políticos que falam publicamente sobre o assunto, mas, aliado de Cunha, Maranhão agora de fato tem sido um nome menos rejeitado dentro da Casa.
Originário do chamado “baixo clero” da Câmara dos Deputados, Maranhão é um aliado próximo de Cunha e sua permanência na principal cadeira da Casa, ainda que de forma meramente “formal”, permitiria ao presidente afastado manter algum poder na Casa.
“Centrão” renasce na Câmara como a maior força do parlamento
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Maranhão passou a ser sustentado, na condição de “rainha da Inglaterra”, pelo chamado “centrão”, um “blocão” formado até agora por 13 legendas (PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, Solidariedade, PHS, PROS, PSL, PTN, PEN e PTdoB). A maioria dos integrantes do centrão tem ligação com Cunha, que estaria articulando também para levar o PMDB ao blocão. Se o PMDB, maior bancada da Casa, for confirmado no centrão, o blocão chegará a mais de 300 dos 513 parlamentares.
Se depender do blocão, a Câmara dos Deputados segue tocada “informalmente” por Giacobo, que, na quarta-feira (18), já recebeu elogios dos colegas. O deputado federal Aliel Machado (Rede Sustentabilidade-PR), que não integra o blocão, disse que se sentia “mais à vontade” na sessão, já que ao menos Giacobo não era alvo da Lava Jato, como Cunha e o próprio Maranhão.
Embora cientes do ineditismo da situação, parlamentares do centrão defendem que a “gestão compartilhada” é a melhor “solução”. Nas declarações à imprensa, são quase unânimes em pedir tempo “para ver como as coisas vão funcionar”. Maranhão raramente conversa com a imprensa, mas pessoas próximas a ele têm indicado que uma “licença” temporária do cargo também não está descartada.
Resistência
Os planos de Cunha e do centrão, contudo, esbarram no antigo núcleo duro da oposição a Dilma Rousseff, formado por PSDB, DEM e PPS. Para eles, Maranhão não tem condição de tocar a Casa e o “jeitinho” encontrado é uma situação “esdrúxula”, porque gera um “vácuo” no comando do Legislativo. “Ele foi responsável por um vexame internacional e não tem qualquer preparo. Para a Casa voltar à normalidade, tem que eleger um novo presidente”, disse o líder do PPS, Rubens Bueno (PR).
O grupo já anda insatisfeito com a escolha do deputado federal André Moura (PSC-SE) para a cadeira de líder do governo Temer, em detrimento de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Moura tem Cunha como seu padrinho político.
“O Centrão agora está dominando tudo, parece que eles fazem o que querem aqui”, disse um parlamentar à reportagem. Segundo o político, o centrão aparenta ter força para “empurrar” a situação até dezembro, quando acaba a gestão Cunha, já que a agenda política no Congresso Nacional deve esfriar no segundo semestre, quando os holofotes estarão voltados para as eleições municipais de outubro. “E eles [centrão] ainda são capazes de eleger o novo presidente da Casa depois”, observou ele.
Para tentar impedir a permanência de Maranhão, PSDB, DEM e PPS têm atuado em duas frentes: há um projeto de resolução em trâmite, de autoria do deputado federal Roberto Freire (PPS-SP), e que declara a vacância do cargo de presidente da Casa e possibilita a realização de nova eleição em um prazo de cinco sessões; e há um mandado de segurança protocolado pelo deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA) no Supremo Tribunal Federal, com o mesmo propósito.
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