A Polícia Militar estima que dez mil pessoas participam da manifestação organizada pelos principais movimentos sociais do país na Esplanada dos Ministérios em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contra a proposta de impeachment. A marcha começou por volta das 9h, fez uma parada em frente ao Ministério da Fazenda, para protestar contra a política econômica, deu uma volta na Esplanada e agora está concentrada no gramado do Congresso.
Cerca de cem estudantes entraram no espelho d'água do Congresso, sem registro de acidentes. Foram mobilizados dois mil policiais para acompanhar o protesto, que é organizado por entidades como União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e Central Única dos Trabalhadores (CUT). Os manifestantes exibem bandeiras do PT, da CUT, do MST, de sindicatos e do PCdoB.
Assim como os protestos de 1992 que pediam o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, os estudantes estão com os rostos pintados de verde e amarelo, mas não falam de impeachment. Desta vez, eles pedem punição para os envolvidos nas denúncias de corrupção e defendem a reforma política, propondo mudanças no financiamento público de campanha.
Os manifestantes gritam palavras de ordem como "Ao,ao,ão, abaixo o mensalão", e "É ou não é piada de salão o neto do ACM falando de corrupção", uma referência ao deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
Nos três trios elétricos que acompanham a manifestação, os discursos são uníssonos em defesa do mandato de Lula e ao mesmo tempo em defesa do combate à corrupção. O presidente da CUT, João Felício, resumiu a posição dos manifestantes:
- Acima de tudo somos contrários a golpes. Achamos errado se abrir impeachment contra o presidente Lula. O Lula para nós é o símbolo. A relação que ele estabeleceu com os movimentos sociais ao longo de décadas não nos permite duvidar da honestidade dele e da história dele. Nós estamos aqui, portanto, dizendo, apuração sim, impeachment não.
O presidente da UNE, Gustavo Petta, chamou a atenção para a possibilidade de a direita voltar ao poder, caso Lula seja afastado.
- A alternativa ao Lula é a volta da direita. Então nós não vamos ser ingênuos para permitir e apoiar a volta da direita.
O presidente das Ubes, Marcelo Gavião, cobrou uma reforma política urgente para evitar que escândalos como os que levaram à crise política atual se repitam. Segundo ele, sem a reforma, todos os anos o país estará exposto a esse tipo de crise.
- Para nós o debate central agora é estabelecer uma discussão a cerca da reforma política. Não adianta mudar os atores e permanecer o cenário. Ou muda a política brasileira ou todo ano a gente vai ter que pintar a cara e vir para a rua defender impeachment de presidente e deputado.
O presidente da UNE também defende mudanças na política macroeconômica que permita o desenvolvimento social.
- Achamos que a saída para a crise política no Brasil passa por esses pontos - afirmou Peta.
Devido à manifestação, o trânsito na Esplanada dos Ministérios foi interrompido no sentido rodoviária Congresso Nacional.
MAIS PROTESTO - A Esplanada dos Ministérios será palco de outro protesto na quarta-feira. A Conlutas, Coordenação Nacional de Lutas, junto com o PSOL e o PSTU, faz ato para pedir que a CPI dos Correios investigue se o presidente Lula tem ligação com o esquema de corrupção.
Para um dos coordenadores da Conlutas, José Maria de Almeida, a manifestação da UNE na terça é "chapa branca", porque, segundo ele, a entidade vai defender o presidente Lula. Mas ele informa que o protesto de quarta também não terá o pedido de impeachment como pauta.
- A nossa manifestação não pede impeachment porque o impeachment tem que ser votado no Congresso e o Congresso, o PFL e o PSDB não têm nenhuma autoridade moral para julgar o Lula. Seria a mesma coisa de os quarenta ladrões julgarem o Ali Babá - atacou Almeida, segundo quem Lula não só sabia do que era feito pelos dirigentes petistas como também os autorizou a fazer.