Em meio à crise, Câmara votará 21 pedidos de convocação de ministros
Em meio à crise do PMDB com o Palácio do Planalto, a Câmara dos Deputados tem na pauta de votações das comissões 21 requerimentos de convocação de ministros para prestar esclarecimentos aos congressistas. O principal alvo é o ministro Arthur Chioro (Saúde) que reúne sete pedidos de explicações sobre o programa Mais Médicos, vitrine eleitoral da presidente Dilma Rousseff. As convocações foram apresentadas pelo PSDB e pelo DEM, mas podem ganhar força com a ameaça de rebelião dos peemedebistas.
Aliança pela reeleição de Dilma está garantida, diz Temer
Após longas reuniões nos últimos dias sobre a relação do PMDB com o governo federal, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) disse nesta segunda-feira (10) que a aliança com o PT está "garantida" e que discussões internas entre as siglas expõem "solidez" na parceria entre os dois partidos. Na Câmara dos Deputados, congressistas do partido, liderados por Eduardo Cunha (RJ), vêm fazendo duras críticas ao modo como a presidente Dilma Rousseff lida com o PMDB.
Cunha minimiza isolamento imposto por Dilma
O líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), minimizou na tarde desta segunda (10) a estratégia de isolamento imposta pelo Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff voltou a se reunir com líderes do partido para discutir a crise instalada na Câmara, mas só o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (RN), foi convidado a participar do encontro.
Segundo o peemedebista, não havia "clima" para uma reunião com a presidente. "Você acha que tinha clima hoje para uma reunião? Que reunião seria essa? Talvez se fosse chamado eu não fosse", afirmou o líder peemedebista. O deputado disse que é preciso esfriar os ânimos para retomar o diálogo. "Primeiro tem de baixar a bola".
Ao reclamar da tentativa de "demonizar" sua figura, Cunha voltou a dizer que, ao isolar o líder do PMDB na Câmara, o governo acaba isolando a bancada inteira. "Erra quem acha que pode me isolar. Eu represento aquilo que a bancada pensa em sua maioria" enfatizou. O deputado negou que tenha uma atuação deliberada pregando o rompimento da aliança e ressaltou que, como líder, não tem uma posição pessoal de embate com o governo. "Não estou levando ninguém à guerra", disse.
O peemedebista lembrou que a bancada do partido "não faltou com o governo" nas votações da Câmara e cobrou respeito. "Não somos obrigados a nos gostar, mas a nos respeitar", pregou. Ele voltou a dizer que os deputados do PMDB votarão contra o projeto do Marco Civil da Internet e que, a menos que haja mudança de posição, os peemedebistas votarão a favor da criação da comissão externa para acompanhar as investigações de suposto pagamento de propina envolvendo funcionários da Petrobras.
Cunha disse que o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) não aceitou assumir o Ministério do Turismo em um "respeito" à bancada da Câmara. "O senador não aceitou. Isso é um gesto de apreço (pela bancada)", avaliou. Nesta terça, os peemedebistas farão uma reunião para discutir os desdobramentos da crise. Ele reiterou que a bancada não tem o poder de antecipar a convenção nacional do PMDB (cabe apenas aos diretórios estaduais), mas que os deputados podem apoiar ou não a iniciativa.
Sem avançar nas discussões sobre a reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff prometeu nesta segunda-feira (10) apoiar candidatos do PMDB em seis estados onde o PT também pretende lançar nomes na disputa, numa tentativa de conter a crise com seu principal aliado. Como um dos motivos do racha entre os dois partidos são as alianças regionais, Dilma espera que o gesto reduza o clima de tensão que marca a relação entre PT e PMDB nos últimos dias. O PT faria concessões em estados como Maranhão, Paraíba, Rondônia, Tocantins, atendendo a demanda de líderes do partido, entre eles os senadores José Sarney (AP) e Vital do Rego (PB).
Na próxima quinta-feira (13), o presidente do PT, Rui Falcão, terá uma reunião com a cúpula do PMDB para discutir as alianças regionais. O encontro foi intermediado pelo ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), escalado por Dilma para tentar debelar a crise peemedebista.
A expectativa do presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), é que as duas siglas estejam coligadas em cerca de 12 estados. Nos demais, onde não houver chance de chapa única, os dois partidos vão estabelecer procedimentos que viabilizem as duas candidaturas. "Nós vamos possivelmente até quinta-feira marcar mais uma reunião com a cúpula do PMDB e do PT para discutir as alianças regionais, que estão causando nesse momento o maior estresse, o maior problema", disse Raupp a jornalistas. "Há uma possibilidade de o Partido dos Trabalhadores abrir para discussão mais uns cinco, seis Estados, que ainda não estavam sendo discutidos, para alianças com o PMDB", afirmou, sem dizer quais seriam esses Estados.
As rusgas entre PT e PMDB são antigas, mas têm ficado mais evidentes nos últimos dias. A condução política da reforma ministerial que Dilma tem promovido para acomodar sua base, as alianças regionais e a relação do governo com o Congresso têm sido alvos de reclamações do PMDB, partido do vice-presidente da República, Michel Temer.
O acirramento chegou ao ponto de haver trocas de acusações entre lideranças das duas siglas, envolvendo inclusive o presidente do PT, Rui Falcão, e o líder da bancada peemedebista na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que chegou a propor um rompimento da aliança PT-PMDB.
No âmbito regional, a situação é grave no Rio de Janeiro, onde petistas querem apresentar candidatura própria em vez de apoiar a candidatura do atual vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), e no Ceará, Estado onde Dilma tem preferência por apoiar o governador Cid Gomes (Pros) a fazer seu sucessor. O líder da bancada peemedebista no Senado, Eunício Oliveira, no entanto, não abre mão de disputar o governo cearense. "Não podemos é dinamitar as pontes, as pontes têm que estar sempre intactas para que a gente possa continuar avançando, conversando", disse Raupp a jornalistas, acrescentando que o partido preferencial para a formação de alianças do PMDB é o PT e vice-versa, nos moldes da aliança nacional.
Reunião
No encontro com a cúpula do PMDB nesta segunda pela manhã, Dilma e o ministro Aloizio Mercadante ouviram o vice-presidente, Michel Temer, os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), além do líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), e de Raupp. Não houve consenso sobre o espaço do PMDB no primeiro escalão.
Dilma mantém a disposição em oferecer uma pasta a senadores peemedebistas, sem atender o pedido de deputados do PMDB para permanecerem com dois ministérios. A bancada do partido na Câmara já avisou publicamente que vai entregar as duas pastas se perder espaço no primeiro escalão - gesto que deu início à atual crise.A ideia do Palácio do Planalto é manter o isolamento do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ) - porta-voz dos insatisfeitos - e tentar esvaziar a ameaça de rebelião. Cunha não foi chamado ao encontro da cúpula peemedebista com Dilma.