Dilma dá posse a Ideli Salvatti no Ministério das Relações Institucionais, mas chama para si a responsabilidade de negociar com deputados e senadores| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Negociadora

Ideli promete que será firme, mas afável

A nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, afirmou que será "firme nos princípios e afável na abordagem" com os parlamentares no cumprimento de sua nova missão. A catarinense que tem fama de "pavio curto" ponderou em seu discurso de posse no cargo que seus oito anos de mandato como senadora renderam-lhe "cicatrizes" e conferiram-lhe "coragem" para enfrentar os desafios do Congresso de "peito aberto".

Ao tomar posse no cargo em solenidade realizada ontem no Palácio do Planalto, a nova ministra afirmou que manter uma relação de "respeito" com todos os partidos que compõem a base aliada será a "tarefa central" de sua gestão à frente da nova pasta. Ela ressaltou que, paralelamente, estabelecerá um "debate respeitoso e republicano com a oposição".

Numa alusão indireta à utilização de cargos e nomeações no governo como ferramentas de trabalho da articulação política do Planalto, a nova ministra frisou que a "argumentação" será a arma que utilizará no cotidiano aos que desejarem discutir com ela e com o governo "os grandes temas nacionais". Ideli enfatizou que seu trabalho será "conversar, conversar, conversar e negociar" com os líderes da base e da oposição no Congresso.

Apesar do discurso de respeito com os aliados e a oposição, Ideli lembrou que será firme e saberá dizer "não" quando for preciso. "Quando necessário vou dizer não, mas com amabilidade". Ao final, ela ressaltou que caberá a ela apenas "coordenar" a articulação política do governo, porque esta é uma tarefa que compete a todos que participam da gestão da presidente Dilma Rousseff.

Agência Estado

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Luiz Sérgio diz que só muda de "trincheira"

Ao deixar a articulação política do governo e assumir o Ministério da Pesca, Luiz Sérgio afirmou que "fez o possível" nos cinco meses que ficou à frente da Secretaria de Relações Institucionais. Apeli­­dado de "garçom" entre os aliados pela falta de poder de decisão, o petista disse que buscou "ouvir mais do que falar".

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O governo federal vai negociar com o Congresso e a presidente da República vai funcionar como uma articuladora política. Dilma Rousseff aproveitou ontem a posse dos novos ministros das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da Pesca, Luiz Sérgio, para dizer que comandará as negociações necessárias para a aprovação dos projetos de interesse do governo no Congresso.

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Na tentativa de deixar claro o recado sobre a nova forma que pretende dar ao governo, agora que fez uma minirreforma ministerial e mudou a Casa Civil e a coordenação política, Dilma afirmou que não vê "dicotomia entre um governo técnico e um governo político". E acrescentou, lançando pontes de negociação sobre os outros poderes: "A afinidade do meu governo com a política se manifesta no imenso respeito pelo Congresso Nacional e pelo Poder Judiciário".

Segundo Dilma, a experiência mostra que nenhum país do mundo conseguiu um elevado padrão de desenvolvimento sem eficiência nas suas atividades governamentais e absorção das técnicas mais avançadas disponíveis. Ela buscou até dispensar a fama de "gerentona". Disse que tem convicção de que as decisões políticas constituem a base das opções governamentais. Lembrou que o governo dispõe de ampla maioria em sua base e prometeu respeitar as minorias.

O Congresso espera a retribuição das promessas de mudança da presidente em forma de cargos e emendas parlamentares. O líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza (PT-SP), elogiou o discurso de Dilma. E fez cobranças para a manutenção do clima de paz. "De urgente temos de ver a liberação das emendas dos parlamentares e as nomeações para o segundo e terceiro escalões com os nomes oferecidos pelos partidos aliados", disse ele. A retomada das nomeações começou na sexta-feira, quando Dilma Rousseff atendeu aos pedidos do PSB, PT e PMDB e pôs Jurandir Santiago na presidência do Banco do Nordeste.

Vacarezza chegou a ser apontado por uma ala do PT como o preferido para ocupar a vaga do ex-coordenador político Luiz Sérgio. Mas Dilma não se interessou pela proposta. Ao contrário. Para dar uma lição no PT, nomeou a então ministra da Pesca Ideli Salvatti para a coordenação política e, no lugar dela, levou o isolado Luiz Sérgio. O líder prometeu fidelidade ao governo de Dilma agora que foram nomeados os novos ministros: "Sou líder, e meu dever é defender o governo; o faria também se estivesse apenas na condição de deputado, como soldado que sou do governo".

Dilma afirmou também que a importância dada por seu governo à atividade política se reflete na compreensão de que a continuidade das grandes transformações necessárias ao desenvolvimento econômico e social do Brasil só podem nascer da negociação, da articulação de interesses e da capacidade de identificar afinidades e convergências onde, à primeira vista, só parece existir conflito e diferença.

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A presidente disse ainda que o governo não é o Poder Executivo, mas a ampla coalizão (são 15 partidos na base) que a apoia.Gleisi

A própria presidente Dilma Rousseff comandará a articulação política, de acordo com informação da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, em entrevista publicada domingo pela Gazeta do Povo. Gleisi informou também que, ao convidá-la para a Casa Civil, na semana passada, Dilma disse que tinha interesse em, a partir de agora, mudar a forma de atuar da Casa Civil.

Significa que, ao contrário dos cinco meses e sete dias em que Antonio Palocci esteve à frente da pasta, a Casa Civil não se envolverá mais com a coordenação política. "Não quero você nas articulações da política", foi o que Dilma Rousseff disse para Gleisi, ao fazer o convite para que fosse para a Casa Civil, de acordo com relato da própria ministra. "Ela quer que eu faça política de gestão, para dentro do próprio governo", afirmou a ministra.

Interatividade

A presidente Dilma vai conseguir "domar" a sua base aliada?

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