Gramado (RS) - A pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, criticou o que qualificou como "demonização" que seu concorrente José Serra (PSDB) fez da Bolívia ao acusar o governo daquele país de cumplicidade com o tráfico de drogas para o Brasil. "Não é possível de forma atabalhoada a gente sair dizendo que um governo é isso ou aquilo, não se faz isso em relações internacionais, não é papel de um estadista, de quem quer ser um estadista", afirmou a petista.
Dilma defendeu a construção de um padrão diferente de relacionamento na América Latina. "Não acho que esse tipo de padrão em que você sai acusando outro governo seja uma coisa construtiva. Acho que a gente tem que ter cautela, prudência, tem que saber que são relações delicadas, que envolvem soberanias".
Além de abordar a polêmica a pedido dos repórteres, Dilma tratou do assunto indiretamente em palestra aos participantes do evento. "Provamos que o Brasil pode ser protagonista sem [tomar] atitudes imperialistas, sem jamais esquecer que na América Latina estão nossos parceiros e é nossa região", afirmou. "Não podemos desprezar e nem olhar com soberba para aqueles que são diferentes de nós; essa é a política que leva à guerra, ao conflito, ao desprezo por populações diferentes de nós".
Emenda 29
Em sua passagem por Gramado (RS), Dilma também acenou com a regulamentação da Emenda Constitucional 29, principal reivindicação da maioria dos 2,5 mil inscritos no evento. A emenda está em vigor há dez anos e estabelece que os estados devem destinar 12% e os municípios 15% de suas receitas para a área da saúde.
As prefeituras querem que a regulamentação, emperrada no Congresso, atribua vinculações também à União, de 10% do orçamento, e defina o que é e o que não é gasto com saúde. Enquanto isso não estiver claro, há estados que computam investimentos em saneamento e despesas com previdência, entre outros, para atingir seus 12%.
Dilma considerou a regulamentação "imprescindível" e lembrou que já havia dito isso aos participantes da recente Marcha dos Prefeitos, em Brasília. Mas, ao mesmo tempo, colocou alguns condicionamentos ao projeto. "Não vou fazer demagogia e dizer que é possível regulamentar sem que haja receita permanente para a adoção desse requisito", ressalvou.
Na sequência, Dilma lembrou que o governo perdeu R$ 40 bilhões com o fim da CPMF, mas deu a entender que não há a intenção de criar ou aumentar impostos para ter a receita permanente necessária ao que estabelecer a regulamentação. "A notícia boa é que o país mudou, está crescendo e nós estamos vendo que vamos gerar mais arrecadação sem aumentar impostos."