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A presidente, que foi perseguida e torturada durante a ditadura militar, negou que o conhecimento da verdade sobre os fatos do período signifique revanchismo | Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
A presidente, que foi perseguida e torturada durante a ditadura militar, negou que o conhecimento da verdade sobre os fatos do período signifique revanchismo| Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
  • No discurso que fez durante a cerimônia de entrega do relatório no Palácio do Planalto, com a presença dos integrantes da comissão e de vários ministros, Dilma chorou, momento em que foi bastante aplaudida

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregou na manhã desta quarta-feira à presidente Dilma Rousseff o relatório fruto de dois anos e meio de trabalho. A presidente, que foi perseguida e torturada durante a ditadura militar, negou que o conhecimento da verdade sobre os fatos do período signifique revanchismo ou acerto de contas. A CNV investiga as violações de direitos humanos cometidas por agentes do Estado entre 1946 e 1988, mas o foco do trabalho é a ditadura militar (1964-1985). No discurso que fez durante a cerimônia de entrega do relatório no Palácio do Planalto, com a presença dos integrantes da comissão e de vários ministros, Dilma chorou, momento em que foi bastante aplaudida.

- A verdade não significa revanchismo. A verdade não deve ser motivo para ódio ou para acerto de contas. A verdade liberta todos nós do que ficou por dizer, por explicar, por saber. A verdade liberta daquilo que permaneceu oculto, de lugares que nós não sabemos onde foram depositados os corpos de muitas pessoas. Mas faz com que agora tudo possa ser dito, explicado e sabido. A verdade produz consciência, aprendizado, conhecimento. A verdade significa acima de tudo a oportunidade de fazer o encontro com nós mesmos, com a nossa história, e o nosso povo com a sua história - disse Dilma, que ainda fez uma referência à Lei de Anistia, de 1979, que livrou agentes da ditadura de punição:— Valorizamos pactos políticos que nos levaram à democracia.

Por outro Lado, Dilma afirmou que vai olhar as recomendações da comissão para "delas tirar todas as consequências necessárias".

— Nós, do governo federal, vamos nos debruçar sobre o relatório. Vamos olhar as recomendações e as propostas da comissão e delas tirar todas as consequências necessárias — afirmou Dilma.

No discurso, a presidente também prestou homenagem aos mortos e desaparecidos e agradeceu seus familiares, além de perseguidos que sobreviveram. Afirmou que a CNV trabalhou sem interferência do governo e demonstrou confiança de que a divulgação do relatório contribua para que as violações de direitos humanos do passado não se repitam.

— Nós, que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua para que fantasmas do passado doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão — afirmou a presidente.

O coordenador da comissão, Pedro Dallari, agradeceu o apoio da Presidência da República e afirmou que a CNV cumpriu a lei e fez seu trabalho. Disse também que o número de vítimas identificadas, hoje em 434, deverá crescer, "especialmente entre as populações camponesas e indígenas".

Apesar das contantes reclamações da CNV em relação à falta de colaboração dos militares, Dallari agradeceu a contribuição do Ministério da Defesa, citando nominalmente o ministro Celso Amorim. Por outro lado, não fez referências às Forças Armadas.

— Aqui quero fazer um registro especial ao Ministério da Defesa e ao ministro Celso Amorim. Em que pesem as circunstâncias difíceis, por conta das razões óbvias, em nenhum momento deixou de haver um diálogo respeitoso e um relacionamento institucional - disse Dallari, agradecendo também outros ministérios, como a Casa Civil, a Secretaria de Direitos Humanos, o Ministério da Justiça, o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Educação e o Ministério da Ciência e Tecnologia, além do Judiciário, Ministério Pública, entidades da sociedade civil, perseguidos políticos e parentes de mortos e desaparecidos.

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