A Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregou na manhã desta quarta-feira à presidente Dilma Rousseff o relatório fruto de dois anos e meio de trabalho. A presidente, que foi perseguida e torturada durante a ditadura militar, negou que o conhecimento da verdade sobre os fatos do período signifique revanchismo ou acerto de contas. A CNV investiga as violações de direitos humanos cometidas por agentes do Estado entre 1946 e 1988, mas o foco do trabalho é a ditadura militar (1964-1985). No discurso que fez durante a cerimônia de entrega do relatório no Palácio do Planalto, com a presença dos integrantes da comissão e de vários ministros, Dilma chorou, momento em que foi bastante aplaudida.
- A verdade não significa revanchismo. A verdade não deve ser motivo para ódio ou para acerto de contas. A verdade liberta todos nós do que ficou por dizer, por explicar, por saber. A verdade liberta daquilo que permaneceu oculto, de lugares que nós não sabemos onde foram depositados os corpos de muitas pessoas. Mas faz com que agora tudo possa ser dito, explicado e sabido. A verdade produz consciência, aprendizado, conhecimento. A verdade significa acima de tudo a oportunidade de fazer o encontro com nós mesmos, com a nossa história, e o nosso povo com a sua história - disse Dilma, que ainda fez uma referência à Lei de Anistia, de 1979, que livrou agentes da ditadura de punição: Valorizamos pactos políticos que nos levaram à democracia.
Por outro Lado, Dilma afirmou que vai olhar as recomendações da comissão para "delas tirar todas as consequências necessárias".
Nós, do governo federal, vamos nos debruçar sobre o relatório. Vamos olhar as recomendações e as propostas da comissão e delas tirar todas as consequências necessárias afirmou Dilma.
No discurso, a presidente também prestou homenagem aos mortos e desaparecidos e agradeceu seus familiares, além de perseguidos que sobreviveram. Afirmou que a CNV trabalhou sem interferência do governo e demonstrou confiança de que a divulgação do relatório contribua para que as violações de direitos humanos do passado não se repitam.
Nós, que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua para que fantasmas do passado doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão afirmou a presidente.
O coordenador da comissão, Pedro Dallari, agradeceu o apoio da Presidência da República e afirmou que a CNV cumpriu a lei e fez seu trabalho. Disse também que o número de vítimas identificadas, hoje em 434, deverá crescer, "especialmente entre as populações camponesas e indígenas".
Apesar das contantes reclamações da CNV em relação à falta de colaboração dos militares, Dallari agradeceu a contribuição do Ministério da Defesa, citando nominalmente o ministro Celso Amorim. Por outro lado, não fez referências às Forças Armadas.
Aqui quero fazer um registro especial ao Ministério da Defesa e ao ministro Celso Amorim. Em que pesem as circunstâncias difíceis, por conta das razões óbvias, em nenhum momento deixou de haver um diálogo respeitoso e um relacionamento institucional - disse Dallari, agradecendo também outros ministérios, como a Casa Civil, a Secretaria de Direitos Humanos, o Ministério da Justiça, o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Educação e o Ministério da Ciência e Tecnologia, além do Judiciário, Ministério Pública, entidades da sociedade civil, perseguidos políticos e parentes de mortos e desaparecidos.
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