Num dos discursos mais duros desde que foi reeleita, a presidente Dilma Rousseff criticou os “moralistas sem moral” e “conspiradores” que tentam obter o impeachment para interromper um mandato conquistado com 54 milhões de votos. Sem citar nominalmente nenhum dos adversários ou conspiradores, Dilma disse que nunca fez da vida pública um meio para obter vantagem pessoal.
Discurso promoveu Dilma de presidente a líder, diz Lula
Na abertura do 12.º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que sua sucessora, ao defender com firmeza o seu mandato, se firmou como uma líder política para conduzir o país para superar a crise. Ele falou após Dilma fazer um dos discursos mais duros desde que se reelegeu, atacando o “golpismo” e os “moralistas sem moral”. “Deixamos de ter apenas uma presidenta para termos uma líder política do Brasil”, disse Lula ao comentar a fala de Dilma.
“Dilminha veio para cá outra Dilma. Ela veio dizendo a todos: ‘Eu sei de onde vim e para onde vou’ [...] ‘Não se enganem aqueles que pensam que virei uma mulher apenas preocupada com o mercado’, porque o mercado não votou nela. Quem votou nela foi a peãozada”, disse.
O petista também criticou a oposição comprometida com a agenda do impeachment. “A Dilma não ganhou as eleições para bater boca com os perdedores. Se eles querem chorar, que vão comprar cebolas”, provocou. Lula defendeu a sucessora, mas foi duro com a política econômica do governo: “Ela sabe dos compromissos que tem, sabe que estamos em dívida e que precisamos fazer mais”.
Diante da plateia de sindicalistas, Lula dirigiu-se ao ministro Miguel Rossetto para afirmar que a base social da esquerda tem encontrado dificuldade de defender o governo diante das medidas de ajuste fiscal. “O que Dilma tem de saber é que este país não pode ouvir falar em corte mais uma semana ou um mês. Ele tem de ouvir falar em crescimento e emprego”, disse.
O ex-presidente também pediu que o governo sintonizasse suas políticas com as propostas que defendeu na campanha presidencial de 2014: “Nós ganhamos a eleição com um discurso e os nossos adversários perderam com um discurso. A impressão que nós estamos passando aqui é que nós estamos com o discurso de quem perdeu e eles adotaram o nosso”.
Lula voltou å carga contra a política econômica do governo: “Não é aquele discurso que parece o Aécio falando, que parece que o Serra falando, não é aquele discurso para parecer que o Bradesco ou o Itaú estão felizes. Não fomos eleitos para isso”. A plateia reagiu com “fora, Levy”.
Ela entrou no auditório do centro de convenções do Anhembi, em São Paulo, acompanhada dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e José Mujica (Uruguai), e discursou na abertura do 12.º Congresso da CUT. “Eu me insurjo contra o golpismo e suas ações conspiratórias, e não temo seus defensores. Pergunto com toda a franqueza: quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficientes para atacar a minha honra?” discursou, sendo aplaudida de pé por uma plateia de mais de 2.000 sindicalistas e militantes simpáticos ao governo.
No discurso de 37 minutos, Dilma foi interrompida seis vezes sob aplausos e gritos de “não vai ter golpe” e “Dilma, guerreira do povo brasileiro”.
A presidente fez ainda duros ataques às tentativas de instaurar um processo de impeachment sem, segundo ela, haver fato jurídico definido ou qualquer fato que a desabone. “O artificialismo dos argumentos é absoluto. A vontade de produzir um golpe contra o funcionamento regular das leis e das instituições é explícita. Jogam no quanto pior, melhor, o tempo todo. Pior para a população e melhor para eles”, disse a presidente.
Sem mencionar o ex-presidente João Goulart (1919-1976), deposto pelo golpe militar de 1964, a mandatária também traçou um paralelo com o episódio - usando as expressões “filme já visto” e “final trágico” – e fez um apelo à base social da esquerda brasileira. “Ninguém deve se iludir. Nenhum trabalhador pode baixar a guarda”, disse.
Ao prometer não se dobrar, ela desafiou a oposição: “Quem quer a paz social e a normalidade institucional não faz a guerra política e não destila ódio e intolerância”. “A obsessão dos inconformados com a derrota nas urnas [quer] obstruir o mandato de uma presidenta eleita contra quem não existe acusação de crime algum. Lutaremos e não deixaremos prosperar”, disse.
Dilma também defendeu o uso dos bancos oficiais para o financiamento de programas sociais – manobra conhecida como “pedaladas fiscais” e que foi condenada, por unanimidade, pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Ela disse que o governo vai continuar questionando os critérios da reprovação das contas do Executivo. “Teremos uma decisão equilibrada do Congresso Nacional. O que chamam de ‘pedaladas fiscais’ são atos administrativos usados por todos os governos”, afirmou.
“Estão tentando usar a análise das contas de meu governo pelo Tribunal de Contas da União para montar o ato final do golpe. (...) Falam de pedaladas fiscais, mas são eles que produzem pedaladas políticas. Não querem aceitar o rito congressual normal. Não querem que o Congresso dê a palavra final sobre as contas”, disse.
Dilma disse que o governo continuará questionando a decisão do TCU que reprovou as chamadas “pedaladas fiscais” - atrasos em repasses de recursos devidos pelo governo a bancos oficiais para gerar superavit fiscal.
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