São Paulo - Na corrida para ver quem vai suceder o presidente Lula, os pré-candidatos do PT, PSDB e PV não se limitam a defender velhas bandeiras de suas legendas. Na briga para ver quem agrada mais aos eleitores vale até a adoção de propostas de inimigos políticos.
A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, defendeu ontem, em entrevista a uma rádio de São Paulo, a desoneração dos remédios e a implantação de clínicas de médicos especialistas para completar a cadeia de atendimento do SUS. A garantia de acesso a medicamentos e a criação dos ambulatórios médicos de especialidades são bandeiras de seu adversário José Serra (PSDB).
Num esforço para se projetar como uma alternativa de consenso, a pré-candidata do PV à Presidência, Marina Silva, voltou a defender ontem políticas adotadas pelo PSDB e PT à frente do Palácio do Planalto. A senadora elogiou mais uma vez o Plano Real e o Programa Bolsa Família, comprometendo-se a dar seguimento a ambos. "Tem de levar o bastão até onde dá, depois passa para o outro. Mas com a garantia de que não haja retrocesso", afirmou. Marina afirmou, em entrevista a uma rádio de São Paulo, se eleita, não lançará mão de "aventuras" na economia.
Já José Serra, ao defender sua proposta de criar um Ministério da Segurança Pública se eleito, acusou o governo da Bolívia de ser "cúmplice" do tráfico de cocaína para o Brasil. O pré-candidato do PSDB afirmou que o governo boliviano faz "corpo mole" ao permitir que, "de 80%, 90%" da cocaína que entra no Brasil venha "via Bolívia".
Serra disse, caso eleito, poderá propor mudanças na Constituição para que a União amplie sua responsabilidade na área de segurança, hoje tarefa dos estados, caso alguém queira "impugnar a participação mais ativa da União" nessa área.
Marina também defendeu uma reforma na segurança pública brasileira. De acordo com ela, não adianta fazer investimentos sem uma reforma no sistema. "Não adianta colocar um puxadinho em cima de uma base deteriorada", comparou. Marina sustentou a necessidade de uma polícia que tenha foco em inteligência operacional, e não apenas na repressão.
Autonomia
Questionada sobre seu grau de autonomia com relação ao Partido dos Trabalhadores caso seja eleita presidente, Dilma Rousseff afirmou ontem em entrevista à rádio Record que conduzirá uma administração democrática, mas que assumirá sozinha as decisões de governo e a responsabilidade plena por elas. Dilma enfrenta críticas de seus adversários, José Serra e Marina Silva, sobre sua capacidade de "controlar" e gerenciar interesses e fisiologismo de sua base, em especial de alguns setores do PT e do PMDB.
O crescimento de Dilma nas pesquisas de intenção de voto está fortalecendo a tendência no PT de fazer menos concessões políticas ao aliado PMDB, que indicará Michel Temer como vice na chapa. Conhecido por ter um insaciável apetite por cargos, o PMDB, que tem seis ministérios e disputa postos em todos os órgãos estatais igual a "criança brigando por saco de balinha no dia de Cosme e Damião", defende que o sucessor do governo Lula tenha um programa de governo que "limite os gastos públicos" e dê "autonomia técnica às agências reguladoras". As propostas fazem parte do programa de governo que o partido apresentou ontem, na condição de aliado do PT e da candidata Dilma Rousseff.
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