Como reação à divulgação de delação premiada que aponta financiamento de sua campanha eleitoral com propina, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira (7) que trata-se de um “vazamento premeditado e direcionado” com objetivo de criar um “ambiente propício ao golpe” às vésperas da votação do impeachment no plenário da Câmara.
Em mais um evento no Palácio do Planalto transformado em palanque contra o seu afastamento, a petista afirmou que nos próximos dias poderão haver “vazamentos oportunistas e seletivos” e informou que pediu ao Ministério da Justiça que tome medidas judiciais cabíveis.
Segundo ela, “passou de todos os limites” o que chamou de “seleção muito clara de vazamentos” no país. A Folha de S.Paulo revelou nesta quinta trechos da delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, que foi sistematizada em uma planilha apresentada à Procuradoria-Geral da República.
“Na trama golpista, gostaria de destacar o uso de vazamentos seletivos. A nossa Constituição Federal garante a privacidade e proíbe vazamentos que hoje são premeditados e direcionados, com claro objetivo de criar ambiente propicio ao golpe”, criticou. “Nós poderemos nos próximos dias ter vazamentos oportunistas e seletivos e pedi ao ministro da Justiça a rigorosa responsabilidade por eles”, acrescentou.
Em longo discurso, no qual chegou a embargar a voz, a petista voltou a chamar um impeachment sem a comprovação de crime de responsabilidade fiscal contra o presidente de “golpe” e fez questão de frisar que não perdeu ou perderá nem o controle nem o eixo.
“Submeter-me ao impeachment ou pedirem que eu renuncie é um golpe de Estado. Um golpe dissimulado, com pretexto e verniz de legalidade”, disse. “Não perco o controle, não perco o eixo, não perco a esperança. Porque sou mulher e me acostumei a lutar por mim e pelos que amo.”
Ela afirmou ainda que aqueles que defendem o impeachment devem saber que são “imensos os riscos a que submeterão o país” e fez um apelo por um pacto nacional, que envolva uma “urgente reforma política” e o fim das chamadas “pautas-bomba” e a superação da atual crise econômica para voltar a gerar emprego e renda.
“O Brasil hoje precisa de um grande pacto, mas nenhum pacto ou entendimento prospera se não tiver como premissa o respeito pela legalidade e pela democracia”, disse, fazendo questão de frisar que só deixará o cargo em janeiro de 2019.
Bolsonaro e bronca
Durante o evento, houve um princípio de confusão quando uma mulher tentou abrir uma faixa favorável à saída da presidente. A responsável pela manifestação foi Kelly Cristina, 29 anos, que vestia uma camiseta com a inscrição “impeachment é democracia”.
Nas redes sociais, a estudante de jornalismo se identifica como Kelly Bolsonaro. Ela negou, no entanto, que seja parente do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). No mês passado, ela invadiu o gramado do estádio Mané Garrincha, em Brasília, durante jogo entre Flamengo e Fluminense, para pedir a saída da presidente.
“Eu vim lutar pela democracia. Aqui é um ato pela democracia da mulher. Como sou mulher, vim lutar pela minha democracia e pela democracia do país”, disse, acrescentando que o protesto foi uma “manifestação espontânea”.
Em reação à estudante, a plateia do evento formada por movimentos de esquerda e centrais sindicais pediu a saída dela, que foi escoltada por seguranças para fora do Palácio.
Com bandeiras, cartazes e camisetas contra o impeachment, as mulheres presentes passaram a cerimônia inteira entoando músicas contra o impeachment, como “não vai ter golpe” e “Fora, Michel Temer”, e chamaram veículos de comunicação de “golpistas”.
Os gritos interromperam o evento mais de uma vez, o que levou o mestre de cerimônia a pedir calma para as mulheres. Em resposta, ele foi chamado de “machista” pela plateia.
A fala do mestre de cerimônia também rendeu uma bronca da presidente. Em discurso, ela pediu calma aos “companheiros de protocolo”. “Não vou cometer aquela frasesinha que os nossos companheiros do protocolo cometeram contra nós”, disse.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura