Nem raios nem falta de investimento. Para a presidente Dilma Rousseff, os apagões que têm deixado diferentes Estados às escuras por horas são resultado de "falha humana". Ela admite ainda que, apesar dos investimentos em produção e transmissão, houve uma redução nos gastos com manutenção.
"O dia em que falarem para vocês que é raio, gargalhem. Cai raio todo dia nesse país. Raio não pode desligar o sistema, se desligou é falha humana", disse a presidente na manhã desta quinta-feira (27) durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.
Temas econômicos prevaleceram na conversa, que durou cerca de 1h30min. Ao criticar o uso de raios como desculpas para apagões, Dilma rebate as afirmações de Hermes Chipp, diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema), e do próprio secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Ildo Grüdtner. Ambos disseram que raios podem ter causados apagões recentes.
Em tom quase professoral, a presidente se levantou e mostrou mapas com distribuição de raios nos últimos dias no Brasil. "Não é sério dizer que a culpa é do raio. Teve falha humana", disse a presidente, lembrando que "raio é derivado de chuva, que é crucial para o sistema funcionar".
Ridículo
Dilma disse ainda que é "ridículo dizer que vai ter racionamento de energia" no Brasil. Mas afirmou que há cerca de 3.000 quedas de energia por ano que as pessoas nem ficam sabendo e admitiu que, com o tempo, o sistema fica cada vez mais sujeito à estresse. Para ela, é necessário um sistema que seja resistente a raios e que se recupere rápido.
Sobre o apagão que deixou por 10 minutos o aeroporto do Galeão, no Rio, às escuras, Dilma disse que a falha é "humana" porque todo o sistema elétrico precisa ser trocado. Quanto à pane no ar condicionado do aeroporto Santos Dumont, a presidente disse ainda que houve uma sobrecarga. "Tem que antecipar e planejar."
Admitiu, contudo, que houve nos últimos anos redução dos investimentos manutenção, apesar do crescimento em transmissão e produção. Disse que a questão não é política, mas de regulamentação do setor.
Aeroportos regionais
Segundo a presidente, no Brasil, aeroporto regional "só é viável" com "subsídio". Juros e câmbio
Durante o café da manhã, a presidente não quis falar sobre tendência de juros e câmbio. Segundo ela, sobre esses dois temas, quem fala é o Banco Central. Disse, porém, que na macroeconomia é preciso ter "muita cautela, muito cuidado" e evitar "aventureirismos". Sucessão presidencial Dilma não quis falar, também, sobre sucessão presidencial. "Eu estaria antecipando 2014. Não vou antecipar o fim do meu mandato", afirmou. Decisões do STF e mensalão A presidente evitou também comentar o julgamento do mensalão. "Como presidente da República, eu não posso dizer algo que possa interferir" em decisões de outros Poderes.
Reforma tributária
"Não vou chanar de reforma, porque sempre que tentamos uma reforma não conseguimos um consenso", disse a presidente sobre a decisão de fazer mudanças pontuais no sistema tributário, que ela disse continuará fazendo.
"É mais fácil caminhar gradualmente do que fazê-la abruptamente", acrescentou. Segundo ela, o Brasil precisa de uma estrutura tributária mais racional. Destacou as desonerações da folha de pagamento que seu governo começou a implementar neste ano.
"Era um fator estranho no Brasil, tributávamos quem mais emprega, não é sustentável", afirmou, dizendo que o processo de desoneração da folha, no início, foi lento. Motivo: "Porque dependemos das opções [dos empresários], mas está sendo crescente e, agora, quase todos setores estão querendo".
Educação
A presidente voltou a colocar como prioridade o investimento na educação. Segundo ela, o país só vai ter crescimento sustentável se aumentar investimentos no setor, que também ajudará a combater a pobreza extrema. "Criança só sai da extrema pobreza se tiver acesso à educação", afirmou a presidente.
Foi por isso, disse, que seu governo determinou, na MP sobre royalties enviada ao Congresso logo depois do veto na distribuição destes recursos, que essa receita deve ser aplicada em educação. Interferência na economia
Questionada sobre reclamações de investidores sobre o intervencionismo do governo na economia, a presidente Dilma defendeu-se, afirmando que "eu interferi sim, briguei foi para [dar aos empresários] financiamentos de 20, 30 anos".
Segundo ela, sem investimentos de longo prazo, que, afirma, seu governo viabilizou, não há como ter retorno no país.
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