A presidente Dilma Rousseff e seu padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva combinaram uma estratégia para tentar salvar o governo da pior crise política. Os dois almoçaram juntos neste sábado (5), em São Bernardo do Campo, enquanto simpatizantes faziam um ato de apoio ao petista diante do prédio onde ele mora.
Ameaçada pelo impeachment, Dilma quer se reaproximar de Lula, mas está distante do PT, e pediu a ele a mediação para que o partido a ajude a preservar o mandato.
A conversa entre os dois ocorreu no dia seguinte à ação da Polícia Federal que conduziu Lula coercitivamente para prestar depoimento. O ex-presidente é o principal alvo da Operação Aletheia, 24.ª fase da Lava Jato.
“Lula vai retomar a postura original dele”, disse o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, em referência ao discurso mais incisivo do ex-presidente contra as elites, marca registrada das suas campanhas. “O problema é que as pessoas, mesmo as nossas, não veem que existem papéis diferentes. Ela é o governo, não um sindicalista que pode falar o que quer. Acho muito importante respeitar as instituições. Agora, tanto o PT como ela têm muito juízo. Não haverá racha.”
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Leia a matéria completaAo receber uma ligação de Dilma, na sexta-feira (4), após prestar depoimento à PF, Lula deu a senha da estratégia a seguir. “Não podemos cair na armadilha de nos dividir, Dilma”, afirmou. “Não dá mais. Se alguém imagina que vou ficar em casa, esquece. Vou para a rua e vou ser candidato a presidente, em 2018.”
Protestos nos dia 13
As declarações de Lula foram confirmadas ao Estado por duas pessoas que estavam ao lado dele durante o telefonema de Dilma. No Planalto, a avaliação é que o cerco a Lula na Operação Lava Jato, a delação do ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS) e a prisão do marqueteiro João Santana dão força às manifestações contra o governo, marcadas para o dia 13.
O aumento dos protestos preocupa o Planalto porque a temperatura das ruas é decisiva para o impeachment ganhar força no Congresso, embora o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tenha se tornado réu em processo por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O monitoramento das redes sociais feito pelo governo indica que a insatisfação popular cresceu muito. Há inconformismo com a corrupção na Petrobras e com a falta de emprego, a disparada da inflação e a perda do poder aquisitivo.
“O Brasil não pode continuar nesse impasse, com o quadro econômico se agravando dia após dia”, disse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). “É preciso acelerar as discussões (sobre impeachment), inclusive no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral”, completou, em referência à Corte na qual tramitam ações do PSDB que pedem a cassação de Dilma e do vice Michel Temer.
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Com medo de perder o mandato, Dilma começou a fazer gestos na direção do PSDB e de alas dissidentes do PMDB. Apoiou, por exemplo, a proposta que prevê a perda da exclusividade da Petrobras na exploração da camada do pré-sal, do senador tucano José Serra (SP), mesmo se indispondo com o PT.
Irritada com as críticas do PT ao ajuste fiscal e à reforma da Previdência, a presidente faltou à festa de 36 anos do partido, no dia 27. A ausência foi um gesto calculado para manter distância regulamentar do PT num momento em que o partido é alvejado pela Lava Jato e Dilma precisa angariar apoio fora do tradicional arco de alianças do governo. Na sexta-feira (4), o aliado PSB anunciou que vai se juntar à oposição.
Os desdobramentos da condução coercitiva de Lula pela PF, porém, empurraram Dilma para uma encruzilhada. As manifestações em defesa do ex-presidente mostraram que ela também precisa do PT para evitar o impeachment. Além disso, pesquisas em poder do Planalto indicam que a maioria da população não dissocia Lula de Dilma. Há uma simbiose entre os dois e o fracasso de um é colado no outro.
Em conversa a portas fechadas com deputados, senadores e dirigentes do partido, na sexta-feira, Lula pediu compreensão com a presidente. “A gente precisa defender a Dilma, mesmo discordando dela. Não querem que ela termine o mandato. Querem inviabilizar o PT para 2018 e não podemos deixar isso acontecer.”
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