| Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Passado alguns dias do processo que a afastou do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff saiu do “anonimato”. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, a presidente afastada não “escolheu” temas. Falou sobre o processo de impeachment, a atuação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) durante seu governo, a divulgação das gravações do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e, também, sobre as primeiras ações de governo de Michel Temer – ao qual não poupou críticas. A entrevista foi publicada na edição deste domingo (29) do jornal.

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Ao falar sobre a divulgação dos áudios gravados por Sérgio Machado com os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL) e com o ex-presidente José Sarney, Dilma estava com um sorriso no rosto, de acordo com a colunista Mônica Bergamo, que conduziu a entrevista. A presidente disse ter lido os três diálogos e afirma que as conversas mostram a causa para o seu impeachment, citando uma fala de Jucá, que afirmou que, sem mudar o governo, a “sangria” continuaria.

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“Outro dos grampeados diz que eu deixava as coisas [investigações] correrem. As conversas provam o que sistematicamente falamos: jamais interferimos na Lava Jato. E aqueles que quiseram o impeachment tinham esse objetivo. Não sou eu que digo. Eles próprios dizem”, disse.

Para Dilma, a crise econômica no país era inevitável, mas que a combinação da má fase na economia e de uma ação política piorou muito o cenário do Brasil. Durante a entrevista, a petista evitou falar sobre os erros de seu governo, afirmando que foi difícil perceber a crise . “Me mostra a oposição falando que tinha crise no Brasil! Ninguém sabia que o preço do petróleo ia cair, que a China ia fazer uma aterrissagem bastante forte, que ia ter a pior seca no Sudeste”, disse. A presidente afastada afirmou que, errou “nisso e naquilo”, mas evitou pontuar os erros de sua administração. Ao ser perguntada sobre os erros, respondeu: “Ah, sei lá. Como é que eu vou falar da situação depois?”.

De acordo com Dilma, as tentativas de reformas foram paralisadas no Congresso sob liderança do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. “Propuseram as ‘pautas-bomba’, com gastos de R$ 160 bilhões. O que estava por trás disso? A criação de um ambiente de impasse, propício ao impeachment. Cada vez que a Lava Jato chegava perto do senhor Eduardo Cunha, ele tomava uma atitude contra o governo”, afirmou.

“Cunha é o governo Temer”

A presidente afastada falou ainda sobre as posições tomadas pelo governo interino de Michel Temer e criticou as políticas econômicas e os cortes nas áreas sociais. Dilma afirmou que Temer deveria pensar na implementação da CPMF para que a população carente não “pague o pato”, me menção à campanha da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP). “Aliás, o pato tá calado, sumido. O pato tá impactado. Porque quem paga o pato, quando não se tem imposto num país, é a população”, criticou Dilma.

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Para a presidente afastada, a figura central do governo de Michel Temer é o próprio presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. De acordo com Dilma, a influência de Cunha na formação ministerial de Temer é clara. “Eu jamais deixaria que ele indicasse o meu ministro da Justiça”, disse, citando Alexandre de Moraes, ministro da Justiça de Temer que já foi advogado de Cunha. “Podem falar o que quiserem. Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer. Cunha não só manda: ele é o governo Temer”, disparou.

Possível retorno

Dilma também falou na possibilidade de reverter o processo de impeachment, que pode fazer com que ela retorne ao Palácio do Planalto. A presidente afastada precisa de 27 votos para ser absolvida do crime de responsabilidade imputado a ela. Em primeira votação, 22 senadores foram contrários ao seu afastamento da presidência. “Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade, disseram que não estavam declarando pelo mérito. Então eu acredito”, comentou. Dilma também voltou a dizer que não há crime de responsabilidade contra ela. O impeachment pode funcionar como golpe. Uma das características deste golpe é detestar ser chamado de golpe”, disse.

A presidente afastada afirmou ainda que, com os motivos do impeachment se tornando mais claros, a possibilidade de barrar o processo no Senado também se torna mais real. “As razões estão mais claras e elas não têm nada a ver com seis decretos ou com Plano Safra. Fernando Henrique Cardoso assinou 30 decretos similares aos meus. O Lula, quatro. Ou seja, não conseguem dizer qual o crime que eu cometi”, afirmou. “Em vista disso e considerando os detalhes que têm surgido a respeito das causas reais para o meu impeachment, eu acredito que é possível”, finalizou.