A rejeição à gestão da presidente Dilma Rousseff levou milhares de brasileiros às ruas, mas a falta de iniciativa política preservou-a no mandato durante 2015. Mesmo com a deterioração da economia brasileira e as investigações da Lava Jato avançando sobre o PT, foi só em dezembro que ela se tornou alvo de um processo de impeachment. Veja alguns dos fatos mais marcantes que fizeram deste ano um período de grande turbulência para Dilma:
JANEIRO
Contrariando o discurso adotado durante o período eleitoral, a presidente Dilma Rousseff determina mudanças na condução da economia. O economista Joaquim Levy, escolhido no fim de 2014 para substituir Guido Mantega no Ministério da Fazenda, avisa desde o início que o Brasil precisa passar por um forte ajuste fiscal. A primeira medida é anunciada em 19 de janeiro, com elevação de impostos, dentre outras ações. Ao mesmo tempo, a presidente veta a correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda, causando descontentamento.
FEVEREIRO
A presidente Dilma não consegue angariar votos suficientes para ver eleito presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP). O desafeto Eduardo Cunha (PMDB-RJ, no centro) se sai vitorioso, inaugurando um período de independência na Casa, com várias derrotas para o governo em votações importantes. No Senado, o aliado Renan Calheiros (PMDB-AL) é reeleito, mas com menos votos do que anteriormente, evidenciando uma força maior da oposição. Poucos dias depois Dilma sofre outro duro golpe: o jurista Ives Gandra da Silva Martins publica artigo em que sustenta que já há fundamentação jurídica para o pedido de impeachment da presidente. Também no início do mês a diretoria da Petrobras anuncia renúncia coletiva, em meio às investigações da Lava Jato.
Ainda no começo de fevereiro, o Instituto Datafolha verifica que a proporção de pessoas que considera o governo de Dilma ótimo ou bom caiu de 42% em dezembro para 23% em janeiro. Desempenho semelhante só tinha sido observado durante a gestão de Fernando Collor, logo depois de ele decretar o confisco da poupança.
MARÇO
Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, Dilma faz pronunciamento nacional, o que leva moradores de várias cidades a fazer panelaço para demonstrar insatisfação. Uma semana depois, acontece o primeiro grande protesto pedindo o impeachment da presidente, com a presença de aproximadamente 2 milhões de pessoas em várias cidades. Em Curitiba (foto), 80 mil foram às ruas, no quarto maior protesto do Brasil. A presidente promete à população ter “mais humildade”.
ABRIL
A segunda manifestação nacional contra Dilma perde força, mas reúne 700 mil em várias cidades do país. Alguns integrantes da oposição, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) passam a defender mais ativamente o impeachment. Dilma sofre ainda dois reveses: o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto (à dir. na foto), é preso, acusado de receber propina por um delator da Lava Jato, levantando suspeitas sobre o financiamento da campanha eleitoral de 2014; e o plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) aprova relatório que considera as manobras fiscais realizadas pelo Tesouro com dinheiro de bancos públicos federais como crime de responsabilidade, dando prazo para autoridades do governo se explicarem. Eduardo Cunha, porém, relativiza, dizendo que as “pedaladas” foram prática comum no Brasil nos últimos 15 anos.
JULHO
Após o lobista Julio Camargo denunciar, no âmbito da Lava Jato, que Eduardo Cunha teria recebido propina de US$ 5 milhões, o presidente da Câmara anuncia rompimento com o Palácio do Planalto. Ele ainda autoriza a instalação de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) – do BNDES e dos fundos de pensão – como forma de desgastar a gestão Dilma.
AGOSTO
Na volta do recesso, Cunha agenda a votação de uma “pauta-bomba”, prejudicial aos cofres públicos em um momento em que o governo federal ainda nem conseguiu a aprovação de todo o pacote de ajuste fiscal. Nesse cenário de conflito, o vice-presidente, Michel Temer (foto), diz que “é preciso alguém para reunificar o país”, suscitando dúvidas sobre a confiança dele em Dilma. No fim do mês, ele deixa a articulação política do governo, que fazia desde abril. Novos protestos pelo impeachment são realizados em todo o Brasil, com menor adesão. Curitiba teve 60 mil manifestantes, mais do que em abril.
SETEMBRO
Nove dias após a presidente Dilma Rousseff encaminhar ao Congresso o projeto de orçamento de 2016 com déficit, a agência de classificação de risco Standart & Poor’s tira do Brasil o grau de investimento, selo de bom pagador que estimula investidores a aplicar dinheiro no país. O governo se diz surpreso, mas o rebaixamento passa a servir de argumento para o Congresso retirar de pauta as votações com potencial de causar prejuízo aos cofres públicos. Também começa a aparecer uma defesa mais veemente do retorno da CPMF como forma de aumentar a arrecadação e minimizar a crise econômica.
OUTUBRO
As revelações de que dinheiro em contas secretas na Suíça teria bancado despesas pessoais da jornalista Claudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha, colocam a credibilidade do presidente da Câmara na berlinda. Deputados contrários ao peemedebista sustentam que ele mentiu na CPI da Petrobras em março, quando declarou não ser dono de nenhuma conta no exterior. Tal atitude é considerada quebra de decoro e pode levar à cassação de seu mandato. Enquanto isso, Cunha parte para o ataque e define um rito para o processo de impeachment de Dilma, que é questionado no Supremo Tribunal Federal.
DEZEMBRO
Depois que os deputados do PT que fazem parte do Conselho de Ética da Câmara confirmarem que votariam pela admissibilidade da investigação contra Cunha por quebra de decoro, o presidente da Câmara aceita o pedido de impeachment de Dilma. Semanas depois, no entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) define um rito que é mais favorável à presidente.
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