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Sessão que votou o pedido de impedimento de Dilma: governo teve que lutar voto a voto e saiu derrotado. | Antonio Augusto /Câmara dos Deputados
Sessão que votou o pedido de impedimento de Dilma: governo teve que lutar voto a voto e saiu derrotado.| Foto: Antonio Augusto /Câmara dos Deputados

A votação que definiu o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara Federal fez com que a sociedade “conhecesse” boa parte dos parlamentares da Casa. Dos 513 deputados, poucos podem ser considerados rostos familiares da população, já que os holofotes geralmente se voltam a líderes partidários e titulares de comissões importantes.

Em meio a votação do impeachment, um a um, surgiram figuras que fazem parte do “baixo clero” da Câmara. Muitas foram as manifestações de surpresa na internet ao conhecer alguns parlamentares, como o deputado Sergio Reis (PRB-SP), por exemplo. Mais popular como cantor sertanejo, ele é titular de apenas uma das comissões da Casa: a que trata de fontes de recursos para incentivo à cultura.

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Reis é um dos representantes dessa ala da Casa, que pode parecer inexpressiva, mas ganhou contornos de importância em votações decisivas. Entre elas estão o próprio impeachment e a eleição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no início de 2015. “A política abandonou o ‘baixo clero’, permitindo que eles se organizassem em torno de outras lideranças, a mais expressiva foi Eduardo Cunha”, diz o cientista político Murillo de Aragão.

Os deputados inexpressivos sempre somaram maioria na Casa, explica Aragão, mas, como seguiam caminho traçado por seus líderes – a maioria, até então, governistas –, não representavam maiores problemas na relação do Planalto com o Congresso. Porém, com a própria “desconstrução” dos líderes, houve um clima de revolta que levou grande parte dos parlamentares a se voltar contra o governo.

“O baixo clero ganhou importância e evidência [com a votação do impeachment], tanto que o governo teve de lutar voto a voto, o que não é comum de se ver no Congresso. Alguns líderes que tentaram fechar com o governo acabaram até desautorizados pelos deputados”, afirma o cientista político da UnB Leonardo Barreto. “Ao negociar no varejo, o governo colocou muita gente do baixo no alto clero.”

Para o especialista, porém, a própria caracterização do baixo clero vem perdendo força desde as últimas eleições, quando houve grande fragmentação dos partidos no Congresso e maior índice de infidelidade. “A grande diferença entre alto e baixo clero é que uma ala influenciava e outra era influenciada, mas isso foi desconstruído, justamente pelo governo ter montado um bloco muito heterogêneo de lideranças”, avalia.

No Senado

Barreto aponta que o esteriótipo dos representantes do baixo clero também poderá ser visto na votação do impeachment no Senado, mas em menor escala. “Na Casa, como se trata de uma eleição majoritária, a maioria é de ‘campeões de votos’, a régua da seleção é muito maior”, diz.

Ele afirma, porém, que alguns suplentes – pouco conhecidos – passarão a mesma imagem de surpresa ao eleitor durante as votações. Um deles é Donizeti Nogueira (PT-TO), que ocupa a cadeira da ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB-TO).

O que é “baixo clero”

O baixo clero é maioria no Congresso. É composto por parlamentares que não ocupam cargos de liderança ou de destaque nas Casas, nem possuem currículo conhecido pela população. “Na maior parte, são ex-governadores, ex-senadores, deputados novatos ou de pouca expressão, cuja atividade é mais voltada para sua área de atuação ou região”, diz o cientista político Murillo de Aragão. “O baixo clero não influencia no processo, não é especialista, não é ouvido, não tem eloquência, e não tem uma rede bem organizada para ocupar cargos de decisão”, resume o cientista político da UnB Leonardo Barreto.

Desafio de possível governo Temer é se reaproximar com a ala

Os especialistas consultados pela reportagem apontam que um dos grandes desafios de um possível próximo governo, caso ocorra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), é justamente reaproximar o baixo clero do Planalto.

“A estratégia deve ser de negociação com várias figuras, não só líderes partidários, mas governadores, caciques, e até diálogo a filiação temática do deputado, como ruralistas e evangélicos”, avalia o cientista político Murillo de Aragão.

Leonardo Barreto, cientista político da UnB, explica que a administração do baixo clero se baseia no contentamento dos deputados em duas áreas: concessão de emendas parlamentares e compartilhamento de cargos. Ele diz acreditar que, se o vice-presidente Michel Temer (PMDB) realmente assumir a Presidência, terá mais “jogo de cintura” com essa ala do Congresso.

“A diferença é que ele foi presidente da Câmara por três vezes, sabe como funciona”, conclui. (KB)

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