Paulo Roberto Costa após sua prisão pela Lava Jato: ex-diretor da Petrobras era ligado ao PP, partido que comanda o Ministério das Cidades| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Interceptações da PF indicam que Costa foi convidado para ser ministro

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa teria sido convidado para assumir o Ministério das Cidades em março deste ano, poucos dias antes de ser preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato

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Entenda o caso

Relembre a reforma ministerial de Dilma e a Operação Lava Jato:

• Início de 2014 – Dilma prepara uma reforma ministerial. Insatisfeito pela possibilidade de perder pastas, um bloco de partidos insatisfeitos – entre eles o PP – trava votações de interesse do governo no Congresso.

• 13/03 – Como parte da reforma, Dilma anuncia a substituição do comando de seis ministérios, incluindo o das Cidades. No mesmo dia, o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) e o doleiro Alberto Youssef comentam o suposto convite a Paulo Roberto Costa para assumir a pasta, que é da cota do PP.

• 17/03 – Youssef é preso na Operação Lava Jato.

• 20/03 – Costa é preso tentando destruir provas e documentos.

• 23/08 – Em troca de redução da pena, Costa começa a prestar depoimentos, detalhando o esquema, em delação premiada.

• 03/10 – Documentos apreendidos pela Polícia Federal no início da Lava Jato são publicados no processo. Entre eles, o que contêm a conversa entre Youssef e Argôlo.

• 08/10 – Em depoimento à Justiça Federal, Youssef e Costa dão detalhes sobre o esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, que teria beneficiado o PP, PT e PMDB.

Como é feita a escolha

A partilha de ministérios entre partidos da base aliada geralmente é "moeda de troca" para garantir a governabilidade no Congresso. No caso do suposto convite feito a Paulo Roberto Costa não ficou claro se ele teria sido chamado por representantes do governo federal para ocupar o ministério ou se o convite partiu do PP, partido cuja "cota" na Esplanada é o Ministério das Cidades. Apesar das indicações partidárias, a palavra final sobre a escolha de ministros sempre é dada pela Presidência da República.

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A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) disse não ter a menor ideia de quem teria indicado Paulo Roberto Costa para o Ministério das Cidades. Segundo notícia divulgada com exclusividade pela Gazeta do Povo, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou ter sido convidado para o cargo, mas recusado o convite.

"Ele jamais foi ministro do meu governo; no meu governo sou eu que convido", afirmou, ao ser questionada por repórteres em breve coletiva de imprensa. "Ele não só não foi como deixou de ser diretor da Petrobras e nunca foi pessoa de minha confiança".

Presidente do PP não acredita em convite

O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), disse desconhecer qualquer tipo de convite para que Paulo Roberto Costa assumisse o Ministério das Cidades. "Nunca soube deste convite e acho difícil, para não dizer impossível, que tenha acontecido", disse Nogueira.

A informação consta de uma troca de mensagens entre o doleiro Alberto Youssef e o deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA) de 13 março – mesmo dia em que foi anunciada a substituição de seis ministros, entre eles o das Cidades, pela presidente Dilma Rousseff (PT). A conversa foi interceptada pela PF e estava sob sigilo até o início deste mês. Os diálogos não deixam claro se o convite teria sido feito pela própria presidente ou pelo PP, partido que controla o ministério.

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Na primeira mensagem, enviada às 19h34, Argôlo pergunta para Youssef: "Vc sabia q chamaram PR pra assumir o Ministério?? E ele n quis. Aguinaldo [Ribeiro, o ministro] saiu hoje" (sic). Segundo as investigações, a sigla PR era usada para citar Paulo Roberto Costa. Youssef responde: "Sabia. Ele já tinha me contado". E em seguida completa: "Foi a melhor coisa q ele fez [não ter aceitado]" (sic).

A troca de mensagens ocorreu exatamente uma semana antes de Costa ser preso por ocultar provas da Operação Lava Jato – que foi deflagrada em 17 de março. À época, Dilma promovia uma reforma ministerial que tinha dois objetivos: liberar ministros que seriam candidatos e pacificar a tensão com o "blocão dos insatisfeitos" do Congresso indicando aliados dos partidos da base.

O Ministério das Cidades faz parte da "cota" do PP, partido que indicou Costa para a diretoria que ele ocupou na Petrobras. Além disso, Youssef é apontado como o operador do esquema de desvio de dinheiro da estatal dentro do partido – que também envolveria o PMDB e o PT, segundo as investigações da PF. Antes de entrar no Solidariedade (SD), Argôlo era filiado ao PP. O deputado responde a processo de cassação de mandato pela relação com o doleiro.

O ex-ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro (PP) deixou o cargo para ser candidato a deputado federal pela Paraíba (e foi eleito). Na época de sua saída, Dilma garantiu à sigla aliada que a pasta continuaria sendo do partido. Publicamente, foi cogitado o nome do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP. Mas Gilberto Occhi, que era vice-presidente da Caixa Econômica pela cota do partido, acabou sendo nomeado.

Provável

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O advogado de Paulo Roberto Costa, João Mestieri, afirmou que "não acha improvável" que o cliente tenha sido convidado a assumir um ministério. "Ele pediu demissão [da Petrobras] e saiu com os elogios que merecia. Se mais tarde alguém o convidou [para ser ministro], ele deve ter dado coerentemente a negativa", disse. Segundo o advogado, Costa não queria mais ter "nenhum tipo de relação com isso, com o governo, com coisas desse tipo", disse.

Mestieri relata ainda que o desligamento de Costa do governo "foi um processo difícil". E que hoje o ex-diretor, depois de ter firmado o acordo de delação premiada em que detalhou o esquema, está tentando "reencontrar o seu próprio eu". "É um caminho de redenção."

Por e-mail, o Ministério das Cidades respondeu apenas que "desconhece esse assunto". A reportagem procurou ainda a assessoria da Presidência, mas não obteve retorno. Os advogados de Youssef e Argôlo também não responderam aos pedidos da reportagem. O Ministério Público Federal (MPF) e a PF, que conduzem as investigações, não comentaram o assunto.