A presidente eleita, Dilma Rousseff, concluiu nesta quarta-feira (22), 52 dias após a vitória nas eleições, a escolha dos 37 ministros do governo que tem início em 1º de janeiro. Foram anúncios a conta-gotas, por meio de oito notas oficiais, e que apontam para um ministério pouco renovado nos principais postos.
Mesmo isolada na residência da Granja do Torto, em Brasília, Dilma não escapou da pressão de aliados, mas na maior parte das vezes fez prevalecer a sua vontade nas negociações que manteve com PT, PMDB e PSB, os principais partidos da aliança que lhe deu a vitória nas urnas.
Dos 37 auxiliares, 16 são filiados ao PT, seis ao PMDB, dois ao PSB. O PP, o PDT, o PR e o PCdoB ficaram com uma pasta cada um. Outros nove ministros não têm filiação partidária.
Os principais espaços da Esplanada dos Ministérios foram ocupados por ministros que já trabalham no governo Lula ou ocupavam espaços no segundo escalão da atual gestão.
Na equipe econômica, por exemplo, Dilma, ela própria ex-ministra de Lula, não apresentou novidades. Manteve o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nomeou a gestora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), sua auxiliar nos tempos da Casa Civil, Miriam Belchior, para o Planejamento, e no Banco Central optou por um diretor com tempo de casa para suceder Henrique Meirelles.
Alguns ministros importantes do governo Lula se mantiveram em outras pastas, caso de Alexandre Padilha, que saiu da Secretaria de Relações Institucionais e foi para a Saúde. E Paulo Bernardo, que deixou o Planejamento para comandar as Comunicações.
Mesmo no caso de outros partidos houve manutenção de nomes em relação ao governo Lula. O Partido da República (PR) continuou à frente dos Transportes e Alfredo Nascimento retorna ao posto. O PMDB também defendeu a manutenção de Nelson Jobim na Defesa, Wagner Rossi na Agricultura e Edison Lobão em Minas e Energia.
O saldo é que dos 37 ministros de Dilma, 17 trabalharam com Lula no primeiro e no segundo escalão.
Ou seja, aqueles que esperavam um ministério renovado nas mãos de Dilma Rousseff se enganaram e viram o anúncio de uma sucessão de nomes conhecidos do governo Lula. Para aliados da petista, isso não foi uma surpresa, já que uma das marcas do discurso dela na campanha foi a continuidade administrativa de seu mentor político.
O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), a quem Dilma trata carinhosamente de "Dedinha", usa a propaganda eleitoral como referência para argumentar que não esperava surpresas no primeiro escalão da primeira mulher a presidir o Brasil.
"Para compreender o perfil (do ministério) precisa ver os últimos programas (da propaganda eleitoral). Ela dizia que representava a continuidade do governo Lula. Ninguém mais que a Dilma conhece a equipe do governo Lula. É um governo que ela defendeu e é natural que ela mantenha pessoas na nova equipe", afirmou à Reuters.
Mulheres e aliados
No governo da primeira mulher a presidir o Brasil, elas comandarão áreas importantes como Planejamento, Meio Ambiente, Desenvolvimento Social, Cultura e Comunicação Social. As "companheiras" também ficaram com áreas mais periféricas com pesca, direitos humanos, igualdade racial e a políticas de gênero, num total de nove pastas.
A principal barreira enfrentada por Dilma para nomear mais mulheres foi a falta de quadros entre os partidos aliados. Apenas mulheres filiadas ao PT ou da cota pessoal da presidente foram escolhidas.
"É dificílimo, porque elas não pertencem às cúpulas partidárias. Eu tive experiência própria com os partidos. Você pede mulher e eles indicam homem. E eu vi que com a Dilma acontece a mesma coisa", disse a senadora eleita Marta Suplicy (PT-SP), ex-prefeita de São Paulo.
Desde que venceu as eleições, Dilma adotou uma postura discreta e praticamente se isolou na Granja do Torto. Ela apareceu poucas vezes em público e decidiu anunciar seus ministros por meio de notas à imprensa, sem dar chance para questionamentos às escolhas.
Na avaliação de assessores próximos, essa estratégia foi adotada para criar um clima de tranquilidade e impedir que reivindicações de aliados por espaço no novo governo tivessem potencial para se transformar em crise política.
Nesse sentido, a Granja do Torto se tornou o refúgio perfeito para Dilma, que só recebeu pessoas previamente convidadas e que podiam driblar facilmente a imprensa, já que a residência tem duas portarias e apenas uma delas é permanentemente vigiada pelos repórteres.Se tivesse optado por despachos diários no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede oficial do governo de transição, as reuniões da presidente com aliados ficariam expostas e ela ficaria mais vulnerável à pressões dos aliados, já que o acesso ao prédio é praticamente livre.
Mas os aliados exigiram dedicação da presidente eleita. Nas primeiras semanas, logo após anunciar os ministros da área econômica e aqueles que terão gabinetes no Palácio do Planalto, o PMDB deu o primeiro recado a Dilma e tentou se aliar ao PP e ao PR para formar um bloco partidário na Câmara e, com isso, formar uma bancada maior que a do PT.
O ambiente estava contaminado pela disputa entre PT e PMDB para presidir a Câmara e pela expectativa dos peemedebistas em relação ao seu espaço no ministério. O bloco não prosperou e apesar de um aparente descontentamento inicial, o PMDB se contentou em manter o número de pastas que já tinha no governo Lula - seis.
Contornado esse incêndio, Dilma teve mais trabalho para contentar o PSB e o próprio PT. Os socialistas tentaram até o último dia de negociação indicar nomes para três pastas, mas não conseguiram.
E os petistas chegaram a fazer a presidente mudar uma de suas indicações para atender as correntes internas da legenda. Dilma tendia a nomear MariaLúcia Falcón para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas depois da insistência dos petistas ligados à corrente Democracia Socialista (DS), escolheu o deputado Afonso Florence (PT-BA) para a pasta, que vem sendo ocupada pela ala de esquerda do partido durante todo o governo Lula.
Dilma também deixou de criar ao menos uma nova pasta que havia prometido durante a campanha eleitoral, o ministério da Micro e Pequena Empresa. Ela ainda deve criar a estrutura, mais adiante. A presidente também desistiu, momentaneamente, de separar a Secretaria de Aviação Civil do Ministério da Defesa.
A ameaça de greve dos trabalhadores do setor aeronáutico e a preocupação com o setor no período de férias adiou, por ora, essa mudança.
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