Em sua primeira entrevista exclusiva após ter anunciado o tratamento de um câncer, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, defendeu que o Banco Central passe a priorizar também a geração de emprego. Ela advogou, ainda, uma retomada da queda da dívida pública a partir de 2010, hoje em 37,6% do Produto Interno Bruto.
"A questão da inflação não pode ser hoje a única função do Banco Central", disse. "Em um momento de deflação e recessão (mundiais), ele tem que olhar a política de emprego também."
Pré-candidata à sucessão presidencial, a ministra voltou a dizer que não trata do assunto "nem amarrada", mas não evitou nenhum tema econômico.
Braço-direito de um presidente de origem sindical, Dilma diz ser contra qualquer novo marco legal que mexa nos direitos trabalhistas. Para ela, o "estratégico" é uma reforma que profissionalize o setor público.
Segundo Dilma Rousseff, a crise financeira internacional exigiu do governo uma política anticíclica que justificou a redução do superávit primário. Mas, a partir do próximo ano, deve haver compromisso com uma dívida pública menor.
"Ainda achamos que temos de manter um esforço para 2010 e anos seguintes", pontuou, sem esclarecer qual governo seria responsável por essa política.
"Nos interessa muito manter essa trajetória decrescente (da dívida) porque ela vai facilitar que a gente seja sustentável em matéria macroeconômica."
Sobre avanços estruturais necessários ao crescimento econômico, a chefe da Casa Civil apontou a necessidade de uma reforma que priorize a profissionalização do setor público.
Na contramão de enxugar o tamanho da estrutura do Estado, o projeto passa pela contratação e formação de funcionários, novos planos de carreira e reformas de gestão. "O Brasil precisa de um Estado meritocrático e profissional", disse.
O presidente da República pediu agilidade na elaboração do marco regulatório das reservas de petróleo. Segundo a ministra, o projeto deve ser encaminha ao Congresso ainda neste semestre.
ENFRENTANDO O CÂNCER
A ministra surpreendeu o mundo político ao anunciar o tratamento de um linfoma há duas semanas. Se durante a entrevista ela se recusou a tratar da campanha eleitoral, não evitou falar do câncer.
"Não é tão ruim assim", disse sobre a doença, acrescentando que o fato de ter decidido enfrentar o problema já é meio caminho andado para superá-lo.
Em meio a sessões de quimioterapia, a agressividade da medicação não abateu o vigor com que fala do governo. Num gesto emotivo, revelou que o mais difícil foi contar à família sobre a descoberta do tumor.
"O difícil para mim não foi falar para o presidente Lula, porque ele me protege. O difícil foi falar para a minha mãe e minha filha, porque sou eu quem as protejo", confidenciou.
"Quem te protege, você vai lá e se atira no ombro."
Apesar do pouco tempo desde o anúncio, ela contou já ter uma coleção de medalhas e santinhos recebidos de pessoas desconhecidas.
Ex-guerrilheira e vítima de tortura no regime militar, Dilma Rousseff não escondeu seu lado religioso.
"Acho que todo mundo é (...) essa crença que você sempre tem na hora que o avião balança e você diz, Nossa Senhora, eu não conheço ninguém que não tenha."
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