Análise
Escolha de Tombini estimulará crescimento
Alexandre Costa Nascimento
A indicação do atual diretor de normas do Banco Central, Alexandre Tombini, para presidir a instituição foi interpretada por analistas como um sinal da opção da presidente eleita Dilma Rousseff por um relaxamento na política monetária em favor do estímulo ao crescimento econômico. A divergência de opiniões gira em torno da velocidade com que o BC vai reduzir os juros para estimular o consumo e os instrumentos que serão usados para atenuar os efeitos colaterais dessa queda: a inflação.
Para o professor de economia aplicada Robson Ribeiro Gonçalves, do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV), a indicação de um nome de perfil técnico terá como consequência a redução da independência do Banco Central.
"O funcionário de carreira tem o cacoete da obediência à hierarquia do BC, já que está acostumado a executar diretrizes que vêm de outras áreas da instituição. Se a Dilma tivesse buscado [um nome] no mercado ou nas universidades, sinalizaria a intenção de dar maior autonomia às decisões."
Para ele, os "balões de ensaio" lançados nas últimas semanas durante a definição dos nomes que vão formar a equipe econômica do novo governo já demonstraram que o regime de metas de inflação está sob ameaça. "Está havendo a sinalização de um desenvolvimentismo inflacionário que coloca o controle da inflação como última prioridade na política do Banco Central", avalia Gonçalves, que já foi economista do BC.
Já o professor do Instituto de Economia da Unicamp Giuliano Contento de Oliveira aposta em um relaxamento na condução da política monetária, mas não vê uma ameaça aos regimes de metas de inflação.
"O BC dispõe de autonomia operacional, que vai continuar existindo e [a política econômica] vai continuar sendo orientada pelo regime de metas de inflação. Haverá uma mudança no tom, não uma mudança de estrutura ou de conduta", avalia. Para Oliveira, a escolha de Tombini atende aos críticos que apontavam Henrique Meirelles como "excessivamente conservador" na condução da política monetária do Banco Central.
"O Meirelles muitas vezes foi acusado de ser mais realista que o rei, exagerando na dose. A Dilma optou por privilegiar a instituição, isso acaba sendo uma forma de valorização institucional dos profissionais de carreira do BC", interpreta.
Para ele, o mercado deve reagir à indicação sem sobressaltos. "Não vejo motivos para nenhuma reação adversa. Não se trata de nenhum economista dito heterodoxo".
A presidente eleita, Dilma Rousseff, montou uma equipe econômica para ditar e ter mais influência sobre os rumos da economia do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Definiu seu time com nomes do próprio governo. Nas palavras de um assessor, ela optou por uma equipe sobre a qual terá "total controle": Guido Mantega (Fazenda), Alexandre Tombini (Banco Central) e Miriam Belchior (Planejamento), cujos nomes serão divulgados hoje como os primeiros de seu futuro ministério.
Dilma decidiu manter Mantega sob a condição de fazer mudanças na equipe da Fazenda. Promoveu Tombini a presidente do BC, quebrando a tradição de requisitar nomes do mercado financeiro. E pagou uma dívida com Miriam Belchior técnica da confiança do presidente Lula , gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas que nunca havia chegado ao primeiro escalão.
Dilma pretende controlar de perto tanto a Fazenda quanto o Banco Central. Por isso manterá o status de ministro do presidente do BC, para que a interlocução com o banco continue direta com o Palácio do Planalto.
O perfil da equipe de Dilma, mais desenvolvimentista, difere do primeiro time escalado pelo presidente Lula, que optou pelo caminho ortodoxo, com Antonio Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central).
No segundo mandato, com a queda de Palocci depois do escândalo da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, Lula escolheu um ministro com um perfil menos conservador, Guido Mantega, mantido por Dilma. Segurou, porém, Henrique Meirelles durante todo seu mandato no BC e chegou a defender sua permanência.
A presidente eleita, porém, sempre quis trocar Meirelles, o que gerou dúvidas no mercado sobre como seria a condução da política monetária. A opção por Tombini, que agrada tanto ao mercado como à equipe de Mantega, é um meio termo.
Mantega foi o primeiro dos três a ser convidado por Dilma. Não era seu nome preferido para comandar a pasta. A presidente eleita queria o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Atendeu, contudo, a um pedido do presidente Lula. Antes, porém, acertou com o atual ministro da Fazenda trocas em sua equipe. Ela quer uma pessoa de sua confiança no comando da Receita Federal, que tanto lhe deu dor de cabeça durante o governo Lula e na campanha eleitoral.
Tombini foi o último dos três a ser confirmado na equipe econômica. Atual diretor de Normas do BC, sua indicação interrompe a série de presidentes vindos do mercado durante os governos Fernando Henrique e Lula. Apesar de ser um nome desconhecido do público em geral, ele já ocupou cargos relevantes nos governos Itamar Franco, FHC e Lula.
Tombini é bem visto tanto pelo presidente do BC de Lula, Henrique Meirelles, quanto por nomes que ocupavam o cargo durante o governo FHC. No mercado, também é aceito. A presidente eleita fez o convite ontem, pessoalmente, antes mesmo de se reunir com Meirelles, atual chefe do Banco Central e há oito anos no cargo, o mais longevo titular da instituição.
Dilma, que desde a época em que era ministra da Casa Civil defendia a saída de Meirelles, encontrou a fórmula para rifá-lo e escapar das pressões de Lula quando o atual presidente do BC vazou para a imprensa que impunha condições para se manter no cargo.
Irritada, criou um ambiente que inviabilizou as tentativas de Meirelles para ficar. Seu futuro na Esplanada dependerá da eleita e de seu partido, o PMDB.
Primeira mulher
Segunda do time a ser chamada, Miriam Belchior será, no Planejamento, a primeira mulher no coração da equipe econômica desde Zélia Cardoso de Mello, a única ministra da Fazenda da história brasileira.
Belchior era a preferida de Lula para suceder Dilma na Casa Civil, mas perdeu a disputa para Erenice Guerra por indicação da própria Dilma. Agora, a presidente eleita paga uma dívida com Belchior, escolhida para ser a gerente de obras do futuro governo.
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