Battisti, conduzido por policiais federais ao ser preso: em entrevista desta semana, ele disse que a “Itália sempre foi um blefe”, e que não haverá retaliação| Foto: Antonio Scorza / AFP

Opinião

Falar em perseguição é exagero

Cesare Battisti é considerado um ex-terrorista na Itália, e isso não é perseguição, porque centenas de pessoas estão na mesma situação; muitas foram condenadas, cumpriram a pena e retornaram à sociedade. Apesar de existir a prisão perpétua na Itália, leis garantem a liberdade após 26 anos. Isso ocorreu inclusive com guerrilheiros de direita que atuaram naquele país no fim dos anos 70.

Por isso não há "perseguição" a quem atuou na esquerda naqueles anos de chumbo; todos que lutaram contra o governo democrático foram responsabilizados – a não ser quem fugiu para outros países. Realmente, há muitos italianos no exterior, e alguns italianos erram ao criticar o Brasil sem fazer o mesmo com a França, por exemplo. Mas Battisti exagera ao afirmar que sua extradição seria uma "derrota" de Lula. Todos os parlamentares italianos de esquerda – os quais têm muita afinidade com o PT – pedem a extradição. Assim como cidadãos comuns, com os quais a reportagem conversou durante uma semana na Itália.

Seria muito bom questionar Battisti sobre o que os parentes das vítimas do PAC falaram, assim como as observações feitas especialistas. Mas ele não respondeu ao pedido de entrevista, feito por meio de seus advogados.

Rosana Félix, repórter de Vida Pública

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Na carta enviada pela presidente Dilma Rousseff em resposta ao presidente italiano, Giorgio Napolitano, ela indicou que não vai modificar a decisão de não extraditá-lo, tomada pelo sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, no último dia de mandato. Na correspondência, assinada com data do último dia 24, ela agradece a gentileza das manifestações de Napolitano à sua chegada à presidência do Brasil e lamenta "a divergência que se estabeleceu sobre a extradição" do ex-ativista italiano.

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"Lamento igualmente que esse episódio se tenha prestado a manifestações injustas em relação ao Brasil, ao meu Governo e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva", disse a presidente na carta. "Sei que essas manifestações não correspondem à percepção que Vossa Excelência tem do tema", completou.

Ela informa ao presidente italiano que a posição adotada pelo presidente Lula será analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em fevereiro, quando os magistrados voltam de suas férias forenses. Lula decidiu manter Battisti no Brasil, com base em parecer da Advocacia-Geral da União (AGU)

Embora a carta de Dilma Rousseff ao presidente italiano tenha vazado, a secretaria de imprensa do Palácio do Planalto, que confirma a existência do documento, declarou que não vai divulgar oficialmente o conteúdo, "por pertencer ao presidente da Itália".

Manifestação

Um ato em defesa de Cesare Battisti levou na manhã de ontem cerca de 70 pessoas à calçada em frente ao consulado italiano, na Avenida Paulista, em São Paulo. Manifestantes estenderam faixas em frente ao prédio, que fica próximo ao Conjunto Nacional e à estação de metrô Consolação. Lia-se nelas: "Liberdade a Cesare Battisti" e "Não à criminalização de Cesare Battisti e [dos] movimentos sociais".

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O apoio a Battisti foi tema de discursos de representantes da esquerda brasileira, como integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Liga Operária.

Cerca de 20 policiais civis e militares, em três viaturas, acompanharam de perto a manifestação, que não chegou a atrapalhar o trânsito da região.

Blefe

Na entrevista concedida ao jornal de esquerda Brasil de Fato, que chegou às bancas ontem, Battisti disse não acreditar em retaliação da Itália contra o Brasil em função da decisão de não extraditá-lo. "A Itália sempre foi um blefe. É a Itália quem precisa do Brasil. O que a mídia passa é muita mentira", afirmou.

Parte da entrevista já havia sido antecipada pelo jornal no dia 21, quando circulou a declaração de Battisti de que "me derrotar, é derrotar o Lula".

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Em 2009, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu asilo político a Battisti. No mesmo ano, o Supremo Tri­bunal Federal (STF) anulou a decisão de Tarso, mas definiu que a decisão final sobre a extradição de Battisti caberia ao presidente da República.

Ex-membro do grupo Pro­letários Armados para o Comu­nismo (PAC), organização radical ativa nos anos 70, Battisti foi condenado a prisão perpétua por quatro homicídios na Itália. Preso no Brasil desde 2007, ele nega os crimes e se diz "perseguido pelo Estado italiano e pelo Judiciário brasileiro".