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A conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste sábado (5), em São Bernardo do Campo (SP), girou em torno do que o PT considera ter sido um “abuso” do juiz Sergio Moro. Dilma não falou com a imprensa ao sair do prédio onde Lula mora. Mas, segundo relato do deputado Vicentinho (PT-SP), que acompanhou a visita, Dilma disse que a condução coercitiva de Lula para prestar depoimento foi “desnecessária”. A presidente também criticou o espírito “espetaculoso” que cercou a operação da Polícia Federal da sexta-feira (4).

Vicentinho afirmou que Dilma lembrou que o petista não se negara a depor. “Não era preciso fazer isso”, disse Dilma, conforme relato de Vicentinho. Ainda de acordo com o deputado, Dilma abraçou Lula e sua mulher, Marisa Letícia, e afirmou: “Você é muito importante para o país e para os trabalhadores, Lula”. A Marisa, Dilma desejou força: “Ânimo”, disse ela, segundo Vicentinho.

O deputado contou também que Lula disse estar “pronto para o combate”. “Vicentinho, estou cada vez mais animado para a luta”, disse o ex-presidente, segundo o relato do parlamentar. De acordo com Vicentinho, o sentimento generalizado no encontro foi de que “o juiz Sergio Moro optou pelo espetáculo”.

Como foi o encontro

Uma hora depois de chegar ao apartamento do ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff deixou o local neste sábado (5), sem falar com a imprensa ou com os manifestantes que se estavam em frente do prédio.

Minutos antes, no entanto, ela desceu até o hall de entrada do prédio e acenou para as dezenas de pessoas que se encontram em frente ao imóvel do ex-presidente neste momento, em uma vigília iniciada às 9 horas. A presidente foi recebida com gritos de “não vai ter golpe”. O ministro Jaques Wagner acompanhou a presidente na visita.

Dilma chegou por volta das 13h30 no apartamento de Lula, em São Bernardo do Campo, para prestar solidariedade ao ex-presidente. A reunião não fez parte da agenda oficial de Dilma e ocorre um dia após o ex-presidente ser conduzido coercitivamente para prestar depoimento na Polícia Federal na 24ª fase da Operação Lava Jato.

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Dilma desceu até o hall de entrada do prédio e acenou para as dezenas de pessoas que estavam do lado de fora. NELSON ALMEIDA/AFP

Minutos após entrar no prédio, Dilma e Lula acenaram na varanda do apartamento, de mãos dadas. Dona Marisa Letícia, mulher do petista, também apareceu.

Dilma já fez um pronunciamento ontem no qual manifestou “inconformismo” com a ação contra o ex-presidente. Disse ainda que a medida era “desnecessária”, pois Lula já teria comparecido diversas vezes de forma voluntária para prestar esclarecimentos.

A presidente chegou a cogitar participar de um evento de apoio a Lula realizado na noite de sexta-feira, mas acabou não comparecendo. Ministros foram escalados para ir a São Paulo representá-la.

Em frente ao prédio onde Lula mora, em São Bernardo do Campo, cerca de 250 manifestantes, segundo a Polícia Militar, fazem vigília desde cedo em solidariedade ao ex-presidente. Os apoiadores do PT estão vestidos com camisetas vermelhas e carregando bandeiras do Brasil.

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Apoio de militantes

No início da tarde, o petista desceu para saudar os manifestantes, distribuiu abraços e tirou fotos. Em seguida, falou brevemente no microfone de um carro de som. “Eu só vim cumprimentar os companheiros que estão aqui e agradecer a solidariedade. Não tem cabimento discursar aqui porque estamos do lado de um hospital”, disse.

Por volta das 9 horas os policiais interditaram uma das pistas da avenida em que o petista mora. Uma faixa com os dizeres “Lula o mais honesto e honrado deste país”, foi colocada na entrada do prédio. Na maior parte do tempo, o clima é pacífico, mas eventualmente os manifestantes hostilizam as equipes de televisão da imprensa.

Os presentes entoam o tradicional canto: “Lula, guerreiro do povo brasileiros” e também “Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”.

A modelo Ju Isen, conhecida como a musa das manifestações contra o governo, foi protestar a favor da Operação Lava-Jato e causou confusão. Vestindo uma camiseta do Brasil, a modelo passou em frente aos protesto pró-Lula acompanhada de um segurança carregando uma bandeira do país.

Os favoráveis ao presidente lançaram garrafas d’água e gritaram palavras de ordem contra a moça. A Polícia Militar teve que intervir, e a modelo deixou o local em um táxi. “Como musa das manifestações, quis vir fazer um protesto pacífico, mas como não consegui estou indo embora”, disse.

Lula desceu do apartamento para saudar os manifestantes.Nelson Almeida/AFP

De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, que está na frente da casa de Lula, a operação contra o ex-presidente foi exagerada. “O jeito com que o ex-presidente foi levado foi exagerado e violento. A Lava Jato tem como mérito o combate à corrupção, mas também tem o demérito, na minha opinião, de estar atuando politicamente em vários momentos”, disse o sindicalista.

A visita de Dilma a Lula é um gesto da presidente em um momento em que os dois foram acusados pelo ex-líder do governo Delcídio Amaral, que fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público. A presidente criticou o vazamento da delação e afirmou que caso se confirmem as declarações de Delcídio elas seriam movidas por “vingança”.

Solidariedade

Na sexta-feira (4), a presidente telefonou para Lula e disse estar solidária com o ex-presidente, que foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento na Polícia Federal no âmbito da 24ª fase da Operação Lava Jato. Em nota divulgada, Dilma disse estar inconformada com a condução coercitiva do ex-presidente.

“Manifesto meu integral inconformismo com o fato de um ex-presidente da República que, por várias vezes, compareceu voluntariamente para prestar esclarecimentos perante as autoridades competentes, seja agora submetido a uma desnecessária condução coercitiva para prestar um depoimento”, diz a nota. Mais tarde, a presidenta fez um pronunciamento em que reafirmou o teor da nota. Segundo a assessoria, após o encontro, Dilma embarca para Porto Alegre onde deve descansar no final de semana.

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