A presidente Dilma Rousseff recusou-se nesta terça-feira (31) a criticar Cuba por sua política de direitos humanos e destacou que abordaria o tema com o colega cubano, Raúl Castro, de uma "perspectiva multilateral".
"Que atire a primeira pedra quem não tiver telhado de vidro. Nós temos no Brasil. Sendo assim, concordo em falar de direitos humanos de uma perspectiva multilateral", disse Dilma à imprensa no Palácio da Revolução, antes de se reunir com Castro.
A presidente, que chegou nesta terça a Cuba, a primeira escala de uma viagem regional que incluirá o Haiti, disse que o tema dos direitos humanos não pode ser "arma de combate político-ideológico", e destacou que até mesmo o Brasil tem denúncias de violações.
A respeito do caso da blogueira opositora cubana Yoani Sánchez, que pediu um visto para ir ao Brasil, a presidente disse que já tinha concedido o documento e que "agora corresponde a ela obter permissão para viajar de Cuba", o que "não é competência do governo brasileiro".
Dilma confirmou que visitará o lendário líder cubano Fidel Castro, de 85 anos, afastado do poder devido a um grave problema de saúde desde 2006, quando foi substituído por seu irmão, o atual presidente Raúl Castro.
"Aguardo esta reunião com muito orgulho", disse a presidente, ex-militante de esquerda, que foi presa e torturada durante a ditadura militar (1964-1985).
Dilma criticou o embargo que Washington mantém sobre Havana desde 1962 e avaliou que a melhor forma de combatê-lo é "dar a Cuba colaboração em diferentes áreas".
Ela afirmou que existe "uma cooperação estratégica favorável" entre os dois países em áreas como biotecnologia, na qual Cuba tem uma estrutura excepcional e competitiva, e o Brasil, com alta capacidade tecnológica.
Além disso, afirmou que, além do crédito de 400 milhões de dólares para importação de alimentos brasileiros, concedido a Cuba, recentemente foi aprovado um financiamento para a compra de equipamentos, máquinas e tratores que estimulem a produção agrícola cubana.
"Também estamos fazendo uma grande contribuição para a construção do Porto de Mariel (50 km a oeste de Havana), o que constitui um sistema de exportações de bens produzidos em Cuba", acrescentou.
Segundo Dilma, neste projeto de US$ 900 milhões o Brasil contribui com US$ 640 milhões para obras de infraestrutura.
A presidente deve visitar as obras de ampliação e modernização do Porto de Mariel, realizadas pela empreiteira Odebrecht, em conjunto com empresas cubanas.