Com quase uma hora de atraso por causa das fortes chuvas que atingem a região, a presidente Dilma Rousseff chegou por volta de 12h30 (horário local) desta segunda-feira (31) a Buenos Aires, capital da Argentina, na primeira viagem internacional como presidente do Brasil. Ela foi recebida pela presidente Cristina Kirchner no Salão Branco da Casa Rosada, sede do poder no país.
Depois da reunião reservada com a colega argentina, Dilma segue para um encontro com as avós e mães da Praça de Maio, mulheres que perderam filhos e netos durante o periodo da ditadura militar na Argentina.
Um dos momentos mais aguardados da visita da presidente brasileira a Buenos Aires é esse encontro com as mães e avós da Praça de Maio, que é simbólico, pois Dilma lutou contra o regime militar no Brasil quando tinha apenas 17 anos e chegou a ser torturada.
Ao G1, a presidente do grupo Avós da Praça de Maio, Estela Barnes de Carlotto disse no último final de semana esperar que a presidente brasileira batalhe para esclarecer as circunstâncias das mortes de militantes brasileiros nas décadas de 60 e 70. Para ela, a "memória da ditadura" é essencial para evitar o retorno de formas opressivas de governo.
"Não nos cabe a menor duvida de que a presidente Dilma buscará a verdade da justiça e da memória. Vai buscar a verdade de uma história de opressão da ditadura. Queremos saber quantas são as vítimas da ditadura no Brasil", afirmou.
Estela contou que, no encontro com Dilma, as Avós da Praça de Maio vão transmitir a experiência de busca por filhos e netos desaparecidos. Através de um método de cruzamento de informações e exames de DNA, o grupo conseguiu localizar 102 homens e mulheres que foram arrancados dos pais militantes durante a ditadura e "doados" a outras pessoas.
"Vamos colaborar com ela para uma troca de experiência. Vamos transmitir o método de busca dos netos desaparecidos, que é feito com cruzamento de dados, testes de DNA e parcerias com organizações", disse.
Estela perdeu a filha Laura em agosto de 1978, assassinada por militares. Ela conta que Laura foi presa quando estava grávida . "A Laura passou nove meses em um campo de concentração. Quando o bebê dela nasceu, em julho de 1978, arrancaram ele dos braços dela. Dois meses depois, em 25 de agosto de 1978, Laura foi assassinada em uma rua de Buenos Aires", contou.
Os pais de Laura receberam da polícia argentina o corpo da filha e batalham há 33 anos para achar o neto. "Ainda estou buscando o filho de Laura. Faz 33 anos e não tenho nenhuma pista de onde ele está vivendo, com quem e o que ele faz", afirmou.
ÓrfãoO G1 também entrevistou um dos órfãos da ditadura argentina. Horácio Pietragalla, de 34 anos, descobriu a verdadeira identidade aos 25, com a ajuda das Avós da Praça de Maio. Filho de dois opositores ao regime militar, Liliana Corti e Horácio Pietragalla, ele foi "doado" a uma família aos cinco meses de idade. Os pais biológicos foram assassinados.
"Eu tinha algumas dúvidas da minha identidade. Não me parecia com as pessoas que me criaram. Tenho quase dois metros de altura e meus pais de criação são bem baixos", disse.
Ele contou que começou a desconfiar que era um "órfão da ditadura" aos dez anos, quando assistiu a um filma sobre crianças que foram arrancadas das mães durante o regime militar.
"Comecei a pensar que talvez fosse o meu caso. Quando fiz 25 anos procurei as Avós da Praça de Maio. Por meio de um processo de investigação e exame de DNA descobri que era filho de Liliana e Horácio", contou.
A mágoa em saber que foi retirado dos braços da verdadeira mãe o impediu de continuar o contato com os pais de criação. Ele adotou o sobrenome do pai morto e rompeu com as pessoas que o criaram.
"Fui apropriado, não foi uma adoção legal. Os meus pais foram assassinados e um militar me deu de presente para um casal. Não disseram que eu era filho adotivo. As coisas não voltaram a ser as mesmas", disse.
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